31 de dezembro de 2008

Modernos e promissores

Quando voltar do seu recesso, o Los Hermanos poderá ter perdido o seu posto no rock nacional para outra banda. O candidato da vez, a banda Cérebro Eletrônico, já mostrou que tem cacife para ser apontada como uma das principais promessas do ano que começa amanhã.

O disco Pareço Moderno, lançado em 2008, é uma resposta a quem pensa que o rock nacional já era. Com uma fórmula que inclui tropicalismo, brega e rock, o Cérebro Eletrônico soa, incrivelmente ... moderno! “Parecer moderno, em relação à música, é buscar referências no passado e no presente, colocando novidades no que já foi feito”, define com precisão o vocalista Tatá Aeroplano.

Com o sucesso conquistado neste ano, a expectativa é grande para o lançamento do próximo álbum. Pelo título, o novo trabalho promete: Deus e o Diabo no Liquidificador. Que venha 2009!

24 de dezembro de 2008

Papai Noel indie



Uma das novidades mais bacanas deste Natal é o clip de Santa's Coming Over, do Low. A música está em um compacto de vinil lançado recentemente por esta banda de Minneapolis (EUA). E já que hoje é dia 24 de dezembro, nada melhor do que rock com espírito natalino. A todos os leitores da coluna e do blog Leituras Musicais, um feliz Natal!

23 de dezembro de 2008

2008, o ano do MGMT

Eletrônica? Pop? Retrô? Difícil é definir a música do MGMT (sigla para Management), dupla nova-iorquina que foi uma das sensações da música em 2008. Presente em quase todas as listas de melhores do ano, o álbum Oracular Spetacular alçou os universitários à condição de astros internacionais.

Com um pop bem humorado e de influências diversas, Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser criaram um disco moderno, dançante e com a cara do século XXI. O clipe viajandão de Time do Pretend, ao estilo História Sem Fim, é uma das coisas mais insanas e legais dos últimos tempos.

Inspirados no eletropop, glam, space rock, folk e psicodelia, o MGMT soa moderno sem deixar de lado o status retrô. Ao que parece, tudo em Oracular Spetacular foi feito sem muita pretensão. “Não estamos tentando encontrar uma fórmula”, disse Goldwasser em entrevista recente.

22 de dezembro de 2008

Uma homenagem à altura da bossa

Entre todas as homenagens ao cinqüentenário da bossa nova, nenhuma soou tão espontânea quanto o último disco de Tom Zé. Em Estudando a Bossa, o baiano aparece cercado de um time de 12 cantoras (entre elas Fernanda Takai, Zélia Duncan e Badi Assad), além do americano David Byrne. Há tempos um álbum do compositor não soava tão assoviável.

O alvo principal da homenagem é um conterrâneo seu que tem fama de chato e canta baixinho. Aliás, para Tom Zé, foi João Gilberto quem criou o estilo com o disco Chega de Saudade, lançado em 1959 – embora as comemorações pelos 50 anos da bossa tenham como ponto de partida o lançamento de Canção do Amor Demais, de Elizete Cardoso, em 1958.

“O biscoito da Cardoso foi divino, foi gostoso, mas era um samba-canção lindo e nunca passou disso não”, canta Tom Zé na sugestiva João nos Tribunais. “Mas quatro meses depois”, prossegue, “João gravou com a levada a voz no jogo sincopado, o violão todo abusado”. E em seguida, completa: “E nasceu a bossa nova”. Em Síncope Jãobim, a história se repete: “No Brasil reinava então o doutor samba-canção, foi quando apareceu o cara do bim-bom”.

Sobram referências a Jobim, Menescal, Nara, Beatles (Roquenrol, Bim-Bom) e até aos jornalistas Zuza Homem de Mello e Tárik de Souza. Enfim, Tom Zé buscou inspiração na história para gravar um dos seus melhores trabalhos em muitos anos. Coincidência ou não, faz exatos 40 anos que o compositor lançou o seu primeiro e extraordinário LP – uma efeméride que passou despercebida frente à genialidade de seu mais recente disco.

20 de dezembro de 2008

Rock inglês volta às origens

Eles nunca tiveram a mesma popularidade que Rolling Stones ou The Who, embora fossem tão ou mais geniais que seus conterrâneos famosos. Em pleno século XXI, o The Kinks mostra que a viagem dos anos 1960 não terminou e promete retornar à ativa. Em entrevista à BBC, o líder Ray Davies disse que a banda voltou a trabalhar em estúdio. No entanto, não confirmou a data do lançamento de um provável disco novo.

Com um número tão grande de bandas imitando a música e a estética sessentista, a volta do The Kinks – com os quatro integrantes originais – não chega a ser um fato tão inesperado. O difícil vai ser manter nível alcançado há quarenta anos – o que leva muitos fãs a torcerem o nariz, com medo de que a reunião não seja positiva para a memória da banda. Mas mesmo que o resultado não seja dos melhores, servirá para apresentá-los às novas gerações.

Precursores do power chord rock (rock com acordes fortes), Davies e companhia lançaram, na segunda metade da década de 1960, um clássico atrás do outro. Embora tenham integrado a chamada invasão britânica, eram contestadores demais para estar ao lado de Beatles e Rolling Stones. E, mesmo com menos hits, tornaram-se uma das bandas mais influentes daquela geração.

Em 1967, chegaram à perfeição com Something Else, um dos mais inspirados álbuns de todos os tempos. Waterloo Sunset, presente neste disco, foi apontada pela Rolling Stone como uma das 50 melhores músicas da história. Marcados por conflitos internos e incidentes pessoais, o Kinks não se reúne desde 1996, quando fez uma pequena turnê. A reunião era cogitada desde 2000, mas a idéia foi interrompida devido a um acidente vascular cerebral sofrido pelo guitarrista Dave Davies em 2004.

The Kinks - Waterloo Sunset

19 de dezembro de 2008

Little Joy e Alanis em POA

Mais dois shows badalados foram confirmados para o início de 2009 em Porto Alegre. No dia 27 de janeiro, o Little Joy (foto) apresenta-se no Bar Opinião com ingressos entre R$ 20 e R$ 30. Em fevereiro será a vez da canadense Alanis Morissette, que estará no Pepsi On Stage no dia 10.

Composto por um integrante do Strokes, o baterista Fabrizio Moretti, e um do Los Hermanos, o vocalista e guitarrista Rodrigo Amarante, o Little Joy surgiu na Califórnia como um projeto despretensioso. O álbum homônimo de estréia foi bem recebido e, com melodias assoviáveis, lembra inevitavelmente as bandas originais de seus integrantes.

Aos 34 anos, Alanis Morissette lançou em 2008 o seu sétimo disco, Flavors of Entanglement, que já vendeu cerca de 600 mil cópias. As músicas são resultado de vários cadernos de anotação da cantora. A turnê, iniciada na Europa, percorre 11 capitais brasileiras no próximo ano.

18 de dezembro de 2008

Bob Dylan de sanfona

A dura sinceridade de Like a Rolling Stone a transformou em uma das canções mais contestadoras de todos os tempos. Após quatro décadas da gravação original, Zé Ramalho traduziu os mesmos versos desoladores que Bob Dylan cantara em 1967. Resultado: a versão chamada Como Uma Pedra Rolar é o destaque de um dos melhores lançamentos deste fim de ano, o álbum do cantor nordestino dedicado a músicas do norte-americano.

O recém-lançado Zé Ramalho Canta Bob Dylan já valeria somente pela faixa acima citada. Mas o autor reservou muito mais. Para quem nasceu em Brejo do Cruz, interior da Paraíba, Jackson do Pandeiro é o Mr. Tambourine Man da clássica canção de Dylan. A citação ao sambista, conterrâneo de Zé, mostra que na linguagem universal da música não há barreiras entre a obra cosmopolita de Dylan e o regionalismo da canção nordestina.

E é trocando a gaita de boca do americano pela sanfona do forró que Zé Ramalho constrói um disco autêntico, à altura de um tributo ao maior poeta do rock. Mesmo quando vai pelo caminho mais simples, o álbum funciona. Negro Amor é uma regravação da já conhecida versão de Caetano Veloso para It’s All Over Now, Baby Blue, enquanto que If Not For You, gravada também por George Harrison, foi registrada em inglês mesmo.

Produzido por Robertinho do Recife e lançado pela EMI, o CD prioriza as canções antigas de Dylan – embora Tá Tudo Mudando seja uma versão para Things Have Changed, que em 2000 rendeu ao compositor um Oscar pela trilha do filme Garotos Incríveis. Tudo bem, as versões são praticamente traduções literais dos originais. Mas se há um compositor com autoridade suficiente para traduzir a obra Dylan, esse alguém é Zé Ramalho.

Faixas:
1 – Medley: Wingwam/Para Dylan (inédita)
2 – O Amanhã é Distante (Tomorrow is a Long Time)
3 – If Not For You
4 – Batendo na Porta do Céu (Versão II) (Knocking on Heaven’s Door)
5 – O Homem Deu Nome a Todos Animais (Man Gave Name to All the Animals)
6 – Tá Tudo Mudando (Things Have Changed)
7 – Como Uma Pedra a Rolar (Like a Rolling Stone)
8 – Negro Amor (It’s All Over Now, Baby Blue)
9 – Não Pense Duas Vezes, Tá Tudo Bem (Don’t Think Twice, It’s All Right)
10 – Rock Feeling Good (Tombstone Blues)
11 – O Vento Vai Responder (Blowin’ in the Wind)
12 – Mr. do Pandeiro (Mr. Tambourine Man)

16 de dezembro de 2008

O Blur está de volta

O bom filho à casa torna. Depois de ajudar a redesenhar o rock inglês na década de 90, o Blur anunciou a reunião marcada para julho em Londres. Uma única apresentação foi confirmada, mas a expectativa é de que a banda, que não lança um disco novo desde 2003 (com o irregular Think Tank), retorne também aos estúdios.

Motivos para alarde não faltam. Com uma mistura de indie, rock psicodélico e madchester (rock dançante produzido em Manchester), o Blur tomou de assalto uma cena roqueira então dominada pelo grunge de Kurt Cobain e companhia. O grupo rivalizou com o Oasis pelo posto de maior banda do Reino Unido e formou, ao lado dos irmãos Gallagher, a linha de frente do britpop.

Desde 2003, seus integrantes dedicaram a outros projetos. O mais bem sucedido deles foi o Gorillaz, do vocalista Damon Albarn, que emplacou vários hits. Em 2009 é a formação original do Blur – que lançou o último álbum, 13, em 1999 – que subirá aos palcos. Albarn, que reatou sua ligação com o guitarrista Graham Coxon, tratou de deixar os fãs otimistas: “O Blur vai voltar a ensaiar e ver se ainda soamos como antes”.


Blur - Coffee & TV

14 de dezembro de 2008

O Mali dá as boas-vindas

Situado no Noroeste da África, o Mali é um dos países mais pobres do planeta. Mais da metade da área é formada por deserto ou semi-deserto e sua economia depende de ajuda externa. Ocupada pelos franceses no final do século XIX, tem na língua de Serge Gainsbourg o seu idioma oficial. E é com ele que o casal Amadou & Mariam apresenta para o mundo, com orgulho, essa parcela exótica e desconhecida da Terra.

Welcome to Mali, lançado no final de novembro, é o sétimo disco da dupla, espécie de embaixadores do seu país pelo mundo. O cartão de visitas que o título sugere recebeu um toque globalizado com a participação do ex-futuro-vocalista do Blur, Damon Albarn na faixa Sabali. É a música africana buscando sua recriação integrando-se a outros ritmos.

Por conta dessa integração, alguns críticos europeus torceram o nariz acusando a dupla de descaracterizar a verdadeira música do Mali. Injusto, se levarmos em conta que, para muitos, o país africano é o verdadeiro berço do blues – estilo cuja autoria é creditada do outro lado do Atlântico.

Mas a própria história de Amadou & Mariam prova que o casal está acostumado a superar barreiras. Ambos são cegos e conheceram-se em um instituto para deficientes visuais na capital Bamako. Mais do que uma história de amor, surgiu ali um dos maiores nomes da world music na atualidade.


Amadou & Mariam - Je Pense a Toi (1999)

12 de dezembro de 2008

O gênio reiventado

A capacidade que Bob Dylan tem de reiventar suas próprias canções faz de Tell Tale Sings um item imperdível para os fãs. O novo álbum do cantor, oitavo volume da série Bootlegs, traz músicas gravadas entre 1989 e 2006 em arranjos irreconhecíveis, além de algumas músicas inéditas. Trata-se de uma síntese ideal da fase iniciada com o lançamento de Oh Mercy (1989) e que revelou o retorno à criatividade do gênio, autor do melhor disco de 2006, Modern Times.

Como costuma fazer em seus shows, Dylan modifica completamente sucessos como Dignity, Most of the Time e Mississipi, que aparecem ora em versões ao piano, ora em gravações ao vivo. A inédita Dreamin of You mostra um Dylan urbano, mas em conexão com o jovem de cabelos desalinhados que redefiniu os rumos do rock nos anos 1960. Lembra o seu trabalho anterior, Modern Times. O CD duplo conta ainda com um rico encarte com fotos, textos e informações sobre cada música. Um belo presente de fim de ano.

10 de dezembro de 2008

EP sem surpresas

Para quem ouviu Viva la Vida or Death and All His Friend, o novo EP do Coldplay não traz grandes surpresas. Prospekts March tem apenas quatro faixas inéditas e até a capa lembra seu antecessor, com uma pintura de Èugene Delacroix (a diferença é que dessa vez o quadro usado foi A Batalha de Poitiers). Com oito músicas, o disco será lançado em um final de ano que não é dos melhores para os ingleses.

Tudo bem, o Coldplay foi a banda que mais vendeu discos em 2008. Logo na semana do seu lançamento, Viva La Vida entrou no primeiro lugar da parada do Reino Unido, onde permaneceu por seis semanas. Mas ao mesmo tempo em que contabiliza cifras milionárias, o quarteto tem de dar explicações à Justiça. Desde que o álbum foi lançado, o grupo recebeu três acusações de plágio. Detalhe: todas pela mesma música, a faixa-título do CD.

Com produção de Brian Eno, Prospekts March ainda não foi alvo de nenhuma denúncia. Até porque a única banda plagiada é o próprio Coldplay. A novidade fica por conta da participação da Jay-Z na nova versão de Lost!. Mas a melhor notícia é a vinda dos ingleses ao Brasil em março 2009. É bem provável que um dos seis shows (isso mesmo, seis!) ocorra em Porto Alegre.

8 de dezembro de 2008

De musa indie a diva do soul

Ela ficou de fora da lista elaborada pela NME com as mulheres mais “cool” da música pop em 2008 – o que mereceu protestos do blogueiro Kid Vinil. E, como se desse uma resposta à indiferença do semanário inglês, Chan Marshall lança no fim do ano uma obra sofisticada e à altura das grandes divas da música.

Não é a toa que duas das seis faixas de Dark End of the Street, novo EP de Cat Power, codinome da cantora, foram tiradas do repertório de Aretha Franklin. O clássico soul que dá nome ao disco, por sinal, recebeu uma interpretação sombria e de arrepiar, bem ao estilo da musa indie – que flerta com a música negra desde 2006, quando lançou o aclamado The Greatest, com a participação de Al Green.

O namoro com o som “da alma” continua em I’ve Been Loving You Too Long (To Stop Now), de Otis Redding, um dos momentos mais emocionantes desta pequena pérola. Até o Creedence Clearwater Revival recebeu tratamento especial na voz da cantora, com a regravação da canção de protesto Fortunate Son, que Chan canta com um desleixo tentador.

Completam o disco – que deve ser lançado oficialmente amanhã, pela Matador – as músicas Ye Auld Triangle (The Pogues), Who Knows Where The Time Goes (Sandy Denny / Fairport Convention) e It Ain’t Fair (Aretha Franklin). Mas, convenhamos, chamar de EP de covers é uma leviandade. Com sua voz arrastada e arranjos sofisticados, Cat Power deu nova vida a canções imortais. Se isso não é ser “cool”, então o que será?

Cat Power - Dark End of the Street

7 de dezembro de 2008

Os sonhos de Paul Weller

Maior do que a qualidade da carreira solo de Paul Weller é a sua importância para o rock. Ex-líder do The Jam e Style Council, o inglês influenciou uma geração de garotos que faziam de suas guitarras um instrumento de rebeldia. No recém-lançado 22 Dreams, seu nono álbum, Weller aposta mais no detalhismo e deixa em segundo plano o som cru de sua primeira banda. O resultado é um disco apontado por revistas como um dos melhores do ano.

A inspiração veio, em parte, da cena que ele ajudou a criar. Guru do britpop, Weller influenciou o rock inglês dos anos 1990, de bandas como Oasis, Blur e principalmente Ocean Colour Scene. Em 22 Dreams, Noel Gallagher (Oasis), Graham Coxon (Blur) e Steve Cradock (OCS) dão uma mãozinha para o ídolo em participações especiais. Nem precisava. Nas 21 faixas do álbum, Weller demonstra uma energia há tempos não vista em sua carreira, costurando melodias como o “sonhador” que o título sugere.

Seja na agitada faixa-título, no folk de Light Nights ou na suingada Have You Made Up Your Mind, Weller mostra porque é um dos grandes nomes do rock inglês. Para a revista Mojo, 22 Dreams foi o terceiro melhor disco lançado em 2008 – atrás apenas dos badalados Fleet Floxes e do The Last Shadow Puppets.

E para os fãs, desconsolados com o cancelamento de sua vinda ao Tim Festival, o britânico preparou mais uma surpresa. Weller at the BBC traz 74 faixas distribuídas em quatro CDs, gravados em sessões exclusivas para a rede inglesa entre os anos de 1990 e 2008 – um ótima maneira de encerrar um ano que foi excelente para o músico.

6 de dezembro de 2008

Três vezes Frank Jorge

Coordenador e professor do curso de Formação de Produtores e Músicos de Rock, na Unisinos, Frank Jorge ainda encontra tempo para colocar em prática tudo o que sabe. Depois dos shows com a Graforréia Xilarmônica, Cascavelletes e (ufa!) Tenente Cascavel, o músico gaúcho lançou o terceiro e aguardado disco solo.

O álbum Volume 3, sucessor de Carteira Nacional de Apaixonado (2001) e Vida de Verdade (2003), saiu no final de novembro pelo selo Monstro Discos. Em canções simples, com letras irônicas e teclados nostálgicos, Frank Jorge apresenta sua mistura sofisticada de Jovem Guarda, surf music e música brega. Com referências ao Rei do Rock (“Elvis”) e ao revival desenfreado do rock sessentista (“Obsessão Anos 60”), o músico não decepciona os fãs saudosos de suas bandas anteriores – em especial Graforréia.

Nas 12 faixas, Frank Jorge (guitarra, baixo e voz) é acompanhado por Alexandre Birck (bateria), Bruno Alcalde (guitarra) e Paulo Bergmann (teclado). A produção é de Rafael Ramos (que já trabalhou com Los Hermanos e Cachorro Grande) e Iuri Freiberger (Tom Bloch). Confira o resultado no My Space.

5 de dezembro de 2008

O homem de preto

As roupas pretas e os inseparáveis óculos escuros, talvez para disfarçar a pouca beleza, sempre fizeram de Roy Orbison um ídolo às avessas. Não tinha o sex appeal de Elvis Presley, mas conseguiu fazer sucesso como cantor e compositor de rock em plena beatlemania. Dono de uma voz grave e trêmula (chegou a ser confundido com um cantor negro), o autor de Oh! Pretty Woman e de muitas outras canções de amor morreu há exatos 20 anos.

Foi com o seu maior hit, relançado décadas depois para a trilha de Uma Linda Mulher (1990), que Orbison obteve a façanha de ficar à frente dos rapazes de Liverpool nas paradas de sucesso, em 1964. Tímido e reservado, o americano nascido no Tennessee passou boa parte da vida de luto – afinal, a esposa Claudette morreu em 1966 e dois dos três filhos faleceram em um incêndio, dois anos depois –, sentimento que refletia-se em suas belas composições. Antes de partir, Roy despediu-se com classe, como um dos integrantes do Traveling Wilburys, supergrupo formado também por Bob Dylan, George Harrison, Tom Petty e Jeff Lynne. Ou seja, fazendo o que mais gostava.

Roy Orbison - Only the Lonely

29 de novembro de 2008

Os mods estão de volta

Prestes a completar 20 anos de estrada – uma eternidade no rock independente –, o Relespública mantém a ligação com os expoentes do movimento mod. A influência de The Who, The Jam e Ira!, que acompanha a banda desde o seu início, fica evidente nas faixas de Efeito Moral, mais novo lançamento do trio curitibano.

A novidade, no entanto, é a diversidade de algumas letras e arranjos. Quando tenta parecer politicamente correto, em Não Seja Otário, Não!, o Relespública derrapa. “Tenho pena de gente que vota em ladrão”, canta o vocalista Fábio Elias. Panfletagem que não passa de um pequeno deslize, já que a faixa Homem-Bomba, também sobre problemas do mundo, não deixa nada a desejar – inclusive pelo clipe.

A epopéia de Lara Bee e o Homem que Contava Histórias, com sete minutos de duração, também aponta mudanças. Tema Pela Terra, por sua vez, é um rock rural – na letra e no arranjo – que poderia ter sido composto por Zé Rodrix.

Mas não seria justo chamar isso de evolução, já que os melhores momentos de Efeito Moral estão naquilo que Fábio, Ricardo Bastos (baixo) e Fabio Moon (bateria) fazem de melhor: rock cru inspirado nos ídolos ingleses com letras em bom português. E quando isso acontece, nem a participação de Samuel Rosa em Tudo Que eu Preciso tira o brilho do trio.

Relespública - Homem-bomba

28 de novembro de 2008

Ânimo no country rock

Dizem que, durante um show, o cantor Ryan Adams mandou embora um sujeito que pedia a música Summer of 69. Sucesso dos anos 1980, a canção foi gravada por seu quase homônimo Bryan Adams, o baladeiro autor de Have You Ever Really Loved a Woman. O episódio retrata com clareza a personalidade e a obra de Ryan Adams, cantor americano de 33 anos que desde o início da década injetou ânimo ao country rock.

Para trilhar um caminho próprio com um nome quase idêntido ao de um popstar, Ryan teve de suar a camiseta. Foram dez discos gravados desde a estréia, em 2000, com o estilo que ficou conhecido como alt country (country alternativo). Após um ótimo lançamento no ano passado (Easy Tiger), o compositor reaparece com Cardinology, reunião de canções concebidas durante a turnê anterior. São músicas de amor e que prometem embalar muitos corações solitários e apaixonados.

27 de novembro de 2008

Radiohead no Brasil

Os ingleses do Radiohead confirmaram hoje que virão ao Brasil em 2009. A banda informou em seu site que estará nos dias 20 e 22 de março no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente. O show integra a turnê do álbum In Rainbows (2007), que ao ser lançado revolucionou a maneira de fazer música. Enquanto algumas bandas famosas preferem combater o compartilhamento de arquivos pela internet, o Radiohead disponibilizou suas músicas por um preço que o próprio ouvinte poderia escolher.

Em 1997, ao lançar Ok Computer, o Radiohead dava às boas-vindas à nova era. Com Kid A (2000) Thom Yorke e companhia superaram mais um limite ao lançar um disco anti-comercial que foi sucesso de público. Se no álbum os ingleses atingem uma sonoridade incomparável, a performance ao vivo não fica para trás. Com efeitos visuais e qualidade de áudio próximos da perfeição, o show é considerado um dos maiores espetáculos da música contemporânea.


Radiohead - Idioteque

26 de novembro de 2008

Assassinos ecléticos

Ouvir The Killers é ter a certeza de que os anos 80 não foram tão ruins. A sonoridade da década retrasada, tão alardeada por revivals caça-níqueis, serve de inspiração para esse quarteto formado em Las Vegas (EUA) há apenas seis anos. Em Day & Age, no entanto, Brandon Flowers e companhia ampliam o leque de influências e mostram elementos até então pouco utilizados pela banda, como a presença de metais em algumas faixas.

O resultado pode estar longe do esperado para quem, em 2004, produziu um petardo chamado Hot Fuss, álbum multipremiado onde estão algumas das melhores canções desta década (Somebody Told Me, Jenny Was a Friend of Mine e Smile Like You Meant It, só pra citar algumas). Lançado oficialmente na segunda-feira passada, Day & Age mostra um The Killers em busca do amadurecimento – palavra tão temida quanto mal interpretada.

Conhecido nas rádios do mundo desde setembro, o single Human mostra o lado Pet Shop Boys do quarteto. Trata-se de um convite para dançar, em que Flowers pergunta “are we human or are we dancer?”. A resposta vem com Joyride, que remete à era disco. Losing Touch, com direito a metais, e a latinidade de I Can’t Stay provam que o The Killers tem um diferencial com relação a muitos companheiros de geração – que não fazem mais do que copiar fórmulas. A agitada Spaceman, uma das melhores, dá o tom de Day & Age: um álbum de rock que anima qualquer festa.

Mesmo tendo ampliado seus horizontes, uma declaração nada modesta de Brandon Flowers mostra que os Killers ainda têm um pé nos anos 80. E que esperam superar uma banda famosa época. “Podemos substituir o U2. Eles estão ficando velhos”, sentenciou o vocalista. Se isso acontecer, não será com Day & Age.

21 de novembro de 2008

Clássico experimental faz 40 anos

A capa era branca, sem desenhos ou foto dos integrantes. Não havia título, e o nome da banda aparecia escrito na mesma cor, em alto-relevo. Seria um tiro no pé para qualquer marqueteiro, mas foi assim que os Beatles fizeram um dos discos mais vendidos da história. No dia 22 de novembro de 1968 – 40 anos amanhã – era lançado o Álbum Branco, nome pelo qual ficou conhecido o disco mais experimental e ousado do Fab Four.

Sob clima de tensão, devido à presença constante de Yoko Ono no estúdio, os Beatles criaram uma obra-prima. As faixas (30 no total, em dois discos) vão da doçura de Blackbird à infantilidade de Ob-La-Di, Ob-La-Da, da fúria de Helter Skelter (espécie de pré-hardcore) ao folk de Rocky Raccoon, explorando a psicodelia em Dear Prudence e While My Guitar Gently Weeps e o rock and roll em Back in the USSR.

E tanto tempo após o seu lançamento, o novo quarentão continua esbanjando vitalidade. A primeira e histórica edição em vinil colocada à venda foi disponibilizada no site eBay pela bagatela de R$ 4 mil – pouco, se considerarmos que a genialidade não tem preço.

Tributo
O álbum branco ficou mais verde e amarelo com o último lançamento do selo Discobertas, do jornalista e pesquisador musical Marcelo Fróes. São 30 artistas brasileiros - um para cada faixa - interpretando os sucessos de John, Paul, George e Ringo. Alguns seguram a onda com classe, como Zé Ramalho (em Dear Prudence), Carmen Manfredini (Rocky Raccoon) e Cachorro Grande (Glass Onion), enquanto outros não saem da mesmice, principalmente Rodrigo Santos & George Israel (Back to the USSR) e Manfred (While While My Guitar Gently Weeps). Mas o destaque mesmo fica com os veteranos Márcio Greyck e Sylvinha Araújo, com Martha My Dear e Blackbird.

O segundo CD da trilogia deve ser lançado em breve com uma surpresa. A inédita canção Dehra Dun, regravada por Zé Ramalho, foi composta em 1968 por George Harrison, mas não chegou a fazer parte do álbum. Com isso, o compositor brasileiro torna-se o primeiro artista a registrá-la em disco.


The Beatles - Rocky Raccoon

18 de novembro de 2008

Senhor psicodélico

Brian Wilson é um artista emblemático. Nos anos 1960, à frente dos Beach Boys, criou Pet Sounds (1966), um dos melhores discos da música contemporânea. Depois, levou 37 anos para concluir a edição final do sucessor, Smile (2004). Agora, após superar problemas mentais e anos de ostracismo, lançou um CD coeso e vibrante – ao contrário dos seus colegas de geração. E já faz planos para o próximo álbum!

A atmosfera criada em That Lucky Old Sun remete à época em que Brian Wilson, hoje um senhor de 66 anos, era um garotão bronzeado na ensolarada Califórnia (o título de Forever My Surfer Girl não é por acaso). O resultado pode não garantir novos fãs, mas acertará em cheio quem já fez planos de amor ao som de Wouldn’t It Be Nice. Experimente ficar imune ao refrão de Mexican Girl, onde o backing vocal característico lembra a grande obra-prima sessentista.

Não fosse pelo refrão moderninho de Morning Beat (ótima, por sinal), podia-se jurar que That Lucky Old Sun foi gravado entre 1965 e 1967. Good Kind of Love, canção pop perfeita, lembra o tempo em que a música era inocente. Datado? No momento em que as bandas mais badaladas apostam no retrô – não apenas musicalmente –, seria injusto condenar quem deu origem a tudo isso. Em resumo: Brian Wilson lançou a pérola psicodélica do ano.

Repleto de faixas narrativas, That Lucky Old Sun é um disco conceitual sobre a infância do artista, conforme ele próprio anunciou. Com título que remete a uma antiga canção folk, foi gravado no estúdio da Capitol em Hollywood. Foi lá que, em 1962, os Beach Boys deram os primeiros passos. Qualquer semelhança com sua antiga banda, portanto, não é mera coincidência.

15 de novembro de 2008

A sensação Gogol Bordello



Provavelmente você nunca imaginou que música cigana pudesse ser tão legal. Quem acha que o gênero se resume a Sidney Magal ainda não conhece o Gogol Bordello, uma das sensações do último Tim Festival. Liderados pelo maluco Eugene Hutz, a banda nova-iorquina promoveu um carnaval punk no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Nômades como os ciganos, os integrantes provêm de diversas partes do mundo. Hutz é ucraniano, mas também há dois russos, um israelense, um etíope, um estadunidense, uma tailandesa, uma chinesa/escocesa (!), um equatoriano e um japonês/romeno (!!). Uma formação nada convencional, aliás. O clip de Wonderlust King, no entanto, mostra que é impossível ficar imune a essa incrível mistura de punk, tarantela e música folclórica do leste europeu. Press play.

14 de novembro de 2008

Brincando nas férias

Para os integrantes do Los Hermanos, férias é sinônimo de trabalho. A banda carioca entrou em recesso no ano passado, mas não deixou órfão o seu enorme séqüito. Primeiro, foi o lançamento de Ao Vivo na Fundição Progresso, registro do histórico último show no Rio de Janeiro.

Agora, as duas cabeças pensantes do quarteto, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, aparecem com novos trabalhos no mercado. Enquanto o primeiro trilha o caminho do messianismo no seu primeiro disco-solo, o segundo agrada com o consistente Little Joy (foto), projeto formado em parceria com o baterista brasileiro dos Strokes, Fabrizio Moretti.

Sou, de Camelo, é basicamente voz e violão. E assovios. As letras são abstratas, como se acreditasse em quem o comparou a Chico Buarque – o equivalente a colocar Wagner Love e Ronaldinho no mesmo balaio. A menina-prodígio Mallu Magalhães tenta socorrer o amigo em uma música em inglês (Janta), mas o vocalista só se salva mesmo com Mais Tarde e Menina Bordada, que devem convencer os fãs.

O Little Joy, esse sim, lançou um trabalho sem egocentrismos, embora não muito original. Salva-se pelas belas melodias e pela sonoridade que, inevitavelmente, lembra as outras bandas de seus integrantes. Enfim, tem hermano para todos os gostos.

13 de novembro de 2008

O adeus a Mitch Mitchell

O centro das atenções no The Jimi Hendrix Experience sempre foi o célebre guitarrista americano. Mas é impossível desprezar a importância da cozinha formada pelo baixista Noel Redding e pelo baterista Mitch Mitchell, que o acompanharam entre 1966 e 1969. Com groove e experimentalismo bem dosados, os dois construíram um pano de fundo perfeito para a Strato de Hendrix, sendo muito mais do que meros coadjuvantes.

Após ajudar a definir os rumos do rock psicodélico, Mitch descansou as baquetas nesta quarta-feira. Ele foi encontrado morto, possivelmente de causas naturais, em um quarto de hotel em Portland, nos Estados Unidos. Tinha 61 anos. Embora não tenha alcançado a mesma notoriedade de seus companheiros de geração, como Keith Moon e Ginger Baker, deu sua contribuição para que a bateria deixasse de ser um instrumento secundário.

Mesmo tendo um estilo próprio, Mitchell sempre esteve ligado à imagem de Hendrix. Nos últimos anos, excursionava com o Experience Hendrix Tour, projeto que homenageava, junto com outros músicos, o seu antigo colega de banda. Último integrante vivo (Jimi morreu em 1970 e Redding em 2003), entrou para o Rock’n Roll Hall of Fame há cinco anos – lugar para onde vão os imortais como ele.

The Jimi Hendrix Experience - Purple Haze

7 de novembro de 2008

Em alta cotação

A crise mundial chegou ao rock com o novo disco do AC/DC. Não que Black Ice, recém-lançado pelos australianos, esteja em baixa na cotação internacional. Pelo contrário: os riffs potentes do guitarrista Angus Young e o vocal afiado de Brian Johnson levantam qualquer bolsa de valores. Mas, para o jornal inglês The Guardian, a banda é a grande responsável pela recessão econômica. A justificativa é que o disco rendeu ao grupo o topo das paradas britânicas, o que não acontecia desde Back in Black, em 1980 – justamente o ano em que a inflação chegou a 20% e o desemprego atingiu quase dois milhões de cidadãos na Grã-Bretanha.

Brincadeiras à parte, Black Ice agradou os fãs, esperançosos por mais uma vinda da banda ao Brasil. Para eles – que acreditam que a fórmula utilizada há três décadas não ficou ultrapassada –, a crise está longe. Até porque depois de um álbum irregular, Stiff Upper Lip (2000), os australianos voltaram à velha forma. Fidelidade às raízes, pelo menos, é o que não falta. A palavra rock aparece no título de quatro das 15 músicas. Logo na faixa de abertura, Rock N’Roll Train, percebe-se pelo nome a vocação de Angus Young e companhia: hard rock em volume alto para ouvir na estrada.

4 de novembro de 2008

Para ler e ouvir

A Feira do Livro de Porto Alegre também é feita de música. Nas bancas situadas na Praça da Alfândega encontram-se publicações destinadas aos fãs de todos os gêneros - algumas delas a um preço bem razoável. Basta revirar bancas e saldões. Boa sorte!



Mais pesado que o céu: uma biografia de Kurt Cobain, de Charles R. Cross
Biografia completa do líder do Nirvana, que se suicidou em 1994. A pesquisa de Cross durou quatro anos. Foram mais de 400 entrevistas e livre acesso a diários, letras e fotos do músico. Ele reconstitui a infância de Cobain, desde quando vivia em um trailer com a família, até a sua ascensão meteórica e a conturbada relação com Courtney Love, entre outros temas. Editora Globo



Beatlemania, de Ricardo Pugialli
Não se trata de uma biografia, mas de um passeio histórico pela carreira de Paul, John, Ringo e George. George Martin, o lendário produtor dos Beatles, escreveu o prefácio da obra. O livro traz fatos marcantes, fotos e histórias nunca antes reveladas. Editora Ediouro






Vale tudo, de Nelson Motta
Biografia do mais polêmico cantor da música brasileira. A partir de um intenso trabalho de pesquisa e da sua convivência com Tim Maia, o jornalista e produtor musical Nelson Motta conta, ao ritmo irresistível do rei do samba-soul, a sua história de som, fúria, excessos e gargalhadas. Morto em 1998, Tim Maia definia-se como gordo, preto, cafajeste, formado em cornologia, sofrências e deficiências capilares. Editora Objetiva



Sargento Pimenta Forever, de Robson de Freitas Pereira (org.)
O tema aqui é o disco mais cultuado de todos os tempos, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles. Mas o enfoque do livro é diferente. Sargento Pimenta mostra, à luz da psicanálise, o significado das canções num total de 15 textos – um para cada música, incluindo dois bônus. Editora Libretos


Paul McCartney: Todos os segredos da carreira solo, de Claudio D. Dirani
Repleto de dados técnicos sobre a carreira solo do ex-beatle: os discos, as canções e tudo o que aconteceu durante cada etapa e cada turnê. Traz ainda entrevistas exclusivas com fãs, amigos especiais e colaboradores. Editora Lira





Sexo, drogas e Rolling Stones, de Nélio Rodrigues
Chegou às lojas junto com o documentário Shine a Light, de Martin Scorsese. O livro cobre a carreira de Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood desde os primórdios, em 1962, até a estréia do filme no Festival de Berlim. Editora Agir





Foto: Luis Ventura/divulgação

1 de novembro de 2008

Ressaca gótica

Lançar um disco novo sem ter nada “novo” de fato é um desafio e tanto. Robert Smith, líder do The Cure, resolveu arriscar. A banda inglesa, sucesso nos anos 1980 em meio à onda pós-punk, gravou 4:13 Dream, o 13º álbum da carreira, como se curtisse a ressaca de uma noite oitentista. Deu certo. Ao contrário do depressivo Bloodflowers (2000), penúltimo trabalho, o disco apresenta um The Cure feliz consigo mesmo, com saudade (e resquícios) dos seus tempos áureos.

Se a coisa começa morna com a cansativa Underneath the Stars, o The Cure retoma nas faixas seguintes a energia da década em que, esteticamente, tudo era permitido – até fazer gatos dançarem no clipe de The Lovecats. As músicas Only One e Reasons Why lembram megahits como In Between Days e Friday I’m in Love. Nostalgia? Picaretagem? Quem se importa? 4:13 Dream é o melhor trabalho do Cure em muitos anos. Em tempo: o álbum estará disponível nos formados CD, LP e digital.

29 de outubro de 2008

Melodia cortante

Como uma jóia rara, a obra de Elliot Smith permanece distante do grande público cinco anos após a sua morte. Mesmo com o lançamento de dois belos álbuns póstumos, o cantor e compositor americano ainda é um artista pouco conhecido – principalmente no Brasil.

A morte foi tão emblemática quanto a sua música, repleta de arranjos suaves e melodias cortantes ao violão. Deitado na banheira do seu apartamento em Los Angeles, Steven Paul Smith (seu nome de batismo) acertou duas facadas no próprio peito. Antes, havia discutido com a namorada Chiba, que ouviu o grito derradeiro do amante. O dia era 21 de dezembro de 2003.

Para se ter uma idéia do poder de sua obra, a parede que aparece na capa do álbum Figure 8 (2000), em Los Angeles, foi transformada em uma espécie de santuário pelos fãs. Virou o Elliot Smith Memorial Wall, alvo de adoração de quem encontra um alento na obra introspectiva do compositor.

Criado em Portland, Oregon, Elliot começou a tocar piano aos nove anos de idade. Aos 10, pegou o violão pela primeira vez. Quatro anos mais tarde, quando foi morar com o pai, teve contato com as drogas e o álcool. Formado em Filosofia e Ciências Políticas, chegou a trabalhar numa padaria depois de graduado. Em 1994, lançou Roman Candle. Antes de morrer, gravou outros quatro álbuns. Dois discos foram lançados após a sua morte, From a Basement on the Hill e New Moon.

Elliot Smith - Baby Britain
c

24 de outubro de 2008

A espera chega ao fim

Desde que Axl Rose anunciou o início das gravações de Chinese Democracy, mais de dez anos se passaram. O lançamento do sexto álbum do Guns N’ Roses chegou a ser cogitado diversas vezes na última década. Agora, finalmente, o disco deverá sair do forno. A nova data programada é 23 de novembro. Pelo menos desta vez, o CD já conta com um tracklist e uma capa, divulgados recentemente pela banda, o que aumenta a expectativa do público.

Chinese Democracy não é apenas o álbum mais demorado da história. Também ocupa o posto de mais caro de todos os tempos. Desde 1994, já custou cerca de US$ 13 milhões. Aos fãs, resta saber se a longa espera e o pesado investimento irão valer a pena. Com quase todas as faixas já conhecidas do público, graças à internet, o disco não tem obtido avaliações positivas em fóruns e comunidades virtuais. Se o resultado final ficar abaixo do esperado, falta de tempo e de dinheiro não serão desculpas para Axl Rose.

19 de outubro de 2008

Lisergia no britpop

O que esperar de um disco novo do Oasis? Sua impressão sobre o recém-lançado Dig Out Your Soul depende muito da resposta a essa pergunta. Se a expectativa é por inovação e quebra de paradigmas, convém não arriscar: há coisas mais criativas no mercado. Mas se o que você espera é o velho som chapado, influenciado pelos Beatles e que deu origem ao britpop dos anos 90, vá em frente.

O fã mais exigente, que quer ter despertado o desejo de tocar air guitar, como se estivesse não no seu quarto, mas em Wembley com outras 100 mil pessoas, não tem motivos para se decepcionar. É a volta da tal mágica, citada por Liam Gallagher ao lançar o novo álbum. Com influências claras do Fab Four e experimentalismo na dose certa, os ingleses produziram um disco muito à frente dos trabalhos mais recentes, já apontado por alguns fãs como o melhor desde (What’s The Story?) Morning Glory, de 1995.

Logo nas primeiras faixas, os irmãos Gallagher mostram que não estavam mentindo quando prometeram um disco psicodélico. Mas a psicodelia aqui ocorre ao estilo de Liam e Noel – que não aceitam o rótulo de britpop para Dig Out Your Soul. A abertura, com Bag It Up, é do tipo que levanta multidões.

The Shock of the Lightning e Falling Down, já conhecidas do público, têm maior potencial radiofônico, ao lado da balada I’m Outta Time. A experimental (Get Off Your) High Horse Lady, por sua vez, é a que melhor se encaixa na definição “viagem ácida sem ácido” de Liam sobre o álbum novo.

Apesar de Noel Gallagher afirmar que o álbum não tem nada de mainstream, Dig Out Our Soul alcançou o primeiro lugar em vendas no Reino Unido uma semana após o seu lançamento. O mesmo aconteceu com todos os discos de estúdio dos ingleses, desde a estréia com Definitely Maybe (1994). Enfim, caiu na rotina – o que, no caso do Oasis, é um elogio.

16 de outubro de 2008

O trovador na Oktober

Os fãs gaúchos de Zé Ramalho, que há algum tempo aguardam por um show no Rio Grande do Sul, têm um compromisso especial para este sábado. O compositor paraibano fará em Santa Cruz do Sul uma das apresentações mais concorridas da Oktoberfest.

O repertório de sua turnê atual é baseado em sucessos como Chão de Giz, Garoto de Aluguel e Admirável Gado Novo, além de regravações como O Trem das Sete (Raul Seixas).

No primeiro semestre, quem admira sua voz cavernosa e seu estilo trovador já havia ganhado um presente. O CD duplo Zé Ramalho da Paraíba, lançado pelo selo Discobertas, traz gravações do início de sua carreira, quando seu estado natal ainda estava incorporado ao nome artístico. Outra novidade, o CD/DVD Zé Ramalho canta Bob Dylan (Tá Tudo Mudando), está em fase final de gravação. Em mais de 30 anos de carreira, são 21 álbuns lançados.


Provável setlist:
1 - Mulher nova, bonita e carinhosa
2 - Beira-mar
3 - Mistérios da meia- noite
4 - Entre a serpente e a estrela
5 - A terceira lâmina
6 - Banquete dos signos
7 - Enternas ondas
8 - Avohai
9 - Vila do sossego
10 - Chão de giz
11 - Garoto de aluguel
12 - Admirável gado novo
13 - Batendo na porta do céu
14 - O trem das 7
15 - Trupizupe (não confirmada)
16 - Frevo mulher
17 - Sinônimos
18 - Vida de viajante

11 de outubro de 2008

Cem anos do samba

Em uma das cenas mais tocantes já produzidas por um documentário, Cartola está sentado ao lado do pai – com quem não conversava há mais de 40 anos. Como se fosse um conhecido casual, Sebastião de Oliveira pede ao filho que cante um samba. Cartola, dedilhando o violão, entoa vagarosamente os versos de O Mundo é um Moinho, a música que compôs quando a filha saiu de casa.

A cena ilustra a essência do maior sambista da história. Afinal, a família, a favela, os amores não correspondidos, a boemia, a vida de garçom, porteiro, lavador de carros era a inspiração para o seu samba triste e cadenciado – embora mais triste tenha ficado o samba após a sua morte. Até hoje, no dia em que estaria completando 100 anos, Cartola segue reverenciado em diversas regravações que já incluíram nomes como Beth Carvalho, Nara Leão e Cazuza, entre outros. O Sol Nascerá, por exemplo, ganhou mais de 600 versões.

Batizado equivocadamente, graças a um erro do escrivão, Angenor de Oliveira nasceu no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, no dia 11 de outubro de 1908. Tinha oito anos quando sua família se mudou para Laranjeiras e 11 quando passou a viver no morro da Mangueira, de onde não mais se afastaria. Desde menino participou das festas de rua, tocando cavaquinho no rancho Arrepiados e nos desfiles do Dia de Reis. Passando por diversas escolas, conseguiu terminar o curso primário, mas aos 15 anos, depois da morte da mãe, deixou a família e a escola, iniciando sua vida de boêmio.

Em 1932, fundou a Estação Primeira de Mangueira. Seu primeiro LP, no entanto, só seria lançado em 1974, meses antes de o compositor completar 66 anos de idade. Gravaria mais três discos até falecer, em 1980, num domingo de primavera – como hoje. Pouco, mas suficiente para torná-lo o maior nome do samba. A melhor definição dos últimos 100 anos é a frase de um velho amigo, Nélson Sargento: “Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve”.

Cartola e seu pai - O Mundo é um Moinho

10 de outubro de 2008

Camaleão maranhense

“Mal eu subo no palco, um maluco me grita de lá: ‘toca Raul’”, canta Zeca Baleiro em Toca Raul. “A vontade que me dá é de mandar o cara tomar naquele lugar”, prossegue o maranhense. O verso dá o tom do novo álbum do compositor, o recém-lançado O Coração do Homem-Bomba. Nele, Zeca liberta-se de alguns estereótipos e transforma clichê em boa música (o que, convenhamos, é melhor do que transformar boa música em clichê).

Se a rima algumas vezes é pobre (“Com Lolita eu só vivia na berita”, por exemplo), a fórmula transforma o seu novo CD em uma miscelânea de ritmos. Diferente do estilo acústico/lírico/romântico que o consagrou, O Coração do Homem-Bomba é tão agressivo quanto o título sugere. Seja na regravação da imperdível Alma Não Tem Cor (do Karnak) ou na animada Vai de Madureira, Zeca mostra uma faceta irreverente de sua obra. Não é de estranhar que um de seus planos seja um disco de música infantil.

Revelação no Vale

Vem de Arroio do Meio uma das boas surpresas da região. Inspirada no que há de melhor no rock gaúcho, a Charanga disponibilizou sua primeira música na internet. Com potencial para hit, Ofélia pode ser ouvida no site www.bandasgauchas.com.br/charanga

Formada por Luiz Antonio (vocais), Lucas (baixo), Thiago Sturmer (guitarra), Felipe (bateria) e Luís Henrique (teclado), a banda tem entre suas principais influências nomes como Beatles, Los Hermanos, Cachorro Grande, Led Zeppelin e Doors.

3 de outubro de 2008

Alarme falso

Uma notícia bombástica, publicada pelo tablóide inglês The Sun, na semana passada, deixou eufóricos os fãs do Led Zeppelin. A banda estaria prestes a se reunir para uma turnê com três membros da formação original: o vocalista Robert Plant, o guitarrista Jimmy Page e o baixista John Paul Jones. As baquetas ficariam a cargo de Jason Bonham, filho do lendário baterista John Bonham. Três dias depois, no entanto, Plant (ou Inri Cristo?) negou a informação. Segundo seus assessores, o cantor está na estrada com a cantora country Alisson Krauss e não pretende começar nova jornada em menos de dois anos após encerrar a atual.

Triste. Após a morte de Bonham, os outros três integrantes reuniram-se apenas três vezez, a última em dezembro do ano passado, em Londres. Estima-se que, na época, 20 milhões de pessoas tenham tentado comprar um ingresso para o show. Sob o nome Page & Plant, o vocalista e o guitarrista fizeram uma turnê bem sucedida comercialmente na década passada, embora muito longe da magia encontrada pelo quarteto nos anos 1970. Para quem sonhava em assistir o Led ao vivo, resta o consolo de que sua discografia pode ser encontrada em qualquer loja por um preço bem razoável.

30 de setembro de 2008

Gigante do hard em POA

Em uma seqüência de shows internacionais nunca antes vista, Porto Alegre recebe no dia 2 de outubro um ícone do hard rock. Os ingleses do The Cult, de volta à formação original, apresentarão na Capital clássicos da década de 1980 como She Sells Sanctuary e Revolution, além de músicas do último álbum, Born Into This (2007). Há mais de 20 anos, em pleno auge do movimento pós-punk, a banda (re)injetou no rock and roll os riffs explosivos de guitarra e as performances arrasadoras de palco, herdadas dos conterrâneos do Led Zeppelin.

A ligação com os anos 1960 e 1970, aliás, não fica restrita à sonoridade do The Cult. O vocalista, Ian Astbury, fez as vezes de Jim Morrison (morto em 1970) como vocalista do lendário The Doors para a gravação de um DVD e uma turnê. Mas o The Doors of 21st Century (novo nome do grupo) não foi adiante, e Astbury voltou a fazer o que sabe de melhor. Ainda bem.

Entre os outros shows marcados para Porto Alegre estão Bem Harper (30 de setembro), KT Tunstal (19 de outubro) e R.E.M. (6 de novembro).

17 de setembro de 2008

Um tapa na orelha

Anunciar uma volta às origens é uma ótima estratégia para quem anda longe dos holofotes. Mas no caso do Metallica, vai muito além do marketing. Com o recém-lançado Death Magnetic, o quarteto revive os tempos em que James Hatfield, Kirk Hammett, Lars Ulrich e Cliff Burton (substituído por Jason Newsted e, posteriormente, por Robert Trujillo) eram quatro moleques cabeludos na ensolarada Califórnia. Depois do experimentalismo de St. Anger (2003), a banda finalmente volta a mostrar o que tem de melhor. O resultado é um tapa na orelha do ouvinte – da primeira à última faixa.

As intenções do quarteto ficam bem claras com as primeiras notas da música de abertura, That Was Just Your Life. Outras, como Broken, Beat & Scarred, têm potencial para conquistar tanto o público rock and roll quando a galera do metal. O que não quer dizer que o Metallica perdeu sua essência – pelo contrário. Com Death Magnetic o grupo recupera a energia de sua produção pré-black álbum (1991). A revista Rolling Stone classificou o disco como equivalente à invasão da Rússia à Geórgia: um ato repentino de agressão de um gigante adormecido.

5 de setembro de 2008

A popstar cinqüentona vem aí

Depois de ficar famosa aos 20, virar ícone pop aos 30 e tornar-se a artista mais bem paga do mundo aos 40, Madona chegou aos 50 popular como nunca e surpreendente como sempre. Com a nova idade, recém-completada no dia 16 de agosto, o fenômeno da música continua provocando histeria por onde passa. No Brasil, onde uma legião de fãs aguarda com ansiedade o seu retorno após 15 anos, não é diferente. A confirmação de três shows, dois em São Paulo e um no Rio de Janeiro, provocou corre-corre atrás dos ingressos. Tanto que, três meses antes, restam entradas apenas para uma das apresentações.

A turnê Sticky & Sweet marca a volta de Madonna ao Brasil após mais de uma década. Na primeira vez, com The Girlie Show, uma multidão seguiu seus passos em São Paulo – alguns chegaram a passar a noite em frente do hotel onde estava hospedada. Durante a Confessions Tour, em 2006, os shows em solo brasileiro foram cancelados, adiando o seu retorno ao país por dois anos. Neste ano, o espetáculo servirá de divulgação para o seu 13º álbum de estúdio, Hard Candy. O show marcado para São Paulo, no dia 20 de dezembro, será o último da série.

Graças à inquietude artística e a sua capacidade de se reiventar, Madonna chegou aos 50 anos em evidência e bem longe da aposentadoria. Da sensualidade de Like a Virgin à rebeldia de Material Girl, passando pela polêmica de Like a Prayer (que provocou protestos da Igreja Católica), sua carreira é recheada de polêmicas e lançamento de tendências, assim como a sua vida pessoal. Aliando o talento ao seu grande senso de marketing, a cantora esbanja vigor – ao contrário de um contemporâneo famoso, o cantor Michael Jackson, que também virou cinqüentenário.

Popstar
Pop por excelência, Madonna está antenada com o rock, música eletrônica, dance, hip hop e retrô. Seu CD mais recente teve a produção do rapper Timbaland, o que reflete na sonoridade inspirada na música negra contemporânea. Com um título sugestido, Hard Candy (doce duro) ganhou edição especial com capa de couro e foi lançado até em vinil.

A poucos dias de dar início à nova turnê, que começou na Europa e passa pela América do Norte antes de chegar ao Brasil, Madonna revelou alguns detalhes sobre os shows. A apresentação é dividida em quatro partes, cada uma com uma influência. Estão incluídas a música folclórica romena, na parte mística, e a música festiva, durante a rave. Esta deverá ser a maior turnê já feita por uma mulher. A estimativa é de que os 55 shows previstos arrecadem US$ 250 milhões. O recorde atual, diga-se de passagem, pertence a Madonna.

3 de setembro de 2008

Para matar a saudade

Cinco mil pessoas cantam, em uníssono, músicas que jamais viraram hits nas grandes rádios. É uma espécie de devoção, que começa pelo figurino (all star é obrigatório) e termina no culto às personalidades de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, alma e cérebro do Los Hermanos. O cenário é o histórico show na Fundição Progresso (RJ), em 9 de junho do ano passado. Foi a última vez que Camelo, Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba subiram ao palco juntos. Na semana passada, a apresentação chegou às lojas em forma de CD em DVD.

Foi o primeiro lançamento dos cariocas após a separação provisória. Nem o momento mais constrangedor, com o mega hit Anna Julia, tira o ânimo dos fãs – que cantam sozinhos os primeiros versos de O Vencedor. O coro segue até mesmo nas canções mais obscuras, como as que integram o álbum 4, mal sucedido comercialmente. É verdade que a banda já havia lançado um registro ao vivo (Cine Íris, 2005), mas o novo DVD funciona como forma de matar a saudade dos fãs. Menos mal que os hermanos, oficialmente, não pararam em definitivo. Apenas deram um tempo.

31 de agosto de 2008

Pedras rolando na sua TV

Pense em um gênio do cinema contemporâneo e na maior banda de rock do mundo. Agora imagine a sua sala como o palco de um mega show. Para quem não foi ao cinema ou não conseguiu baixar o filme, a espera acabou. Chegou às lojas na semana passada o DVD Shine a Light, que traz os Rolling Stones em plena forma (embora sexagenários) dirigidos pelo mestre Martin Scorsese.

A gravação registra a turnê do álbum A Bigger Bang (2006). Mas, felizmente, o repertório foi baseado na fase de maior criatividade da carreira – em especial o disco Exile on Main Street (1972), o melhor de todos. Petardos como Tumbling Dice e Loving Cup – essa última com participação de Jack White (Raconteurs e White Stripes) – explicam porque Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts permanecem no topo depois de 40 anos de estrada. O lado ruim da história é a ausência de faixas bônus na versão brasileira do DVD. Mas não há motivo para pânico, pois como diz Scorsese, “isto é rock and roll, não fique nervoso por nada”.

Loving Cup (com Jack White)

20 de agosto de 2008

Despedida duvidosa

O mundo da música já viu tantos retornos improváveis que fica difícil crer no fim do The Police. Na última sexta-feira, o trio inglês fez o seu último show para uma multidão no Hyde Park, em Londres. Queen, Doors, Stooges e Mutantes são exemplos de gigantes do rock que voltaram após longo período de hibernação criativa. E, se a performance dos velhinhos não trouxe nada de novo para o cenário musical, pelo menos contribuiu para apresentar o som às novas gerações. Além de encher os bolsos, claro. O Sex Pistols, em 1995, chamou a sua turnê de reunião de Lucro Fácil.

Mas o oportunismo não combina com o The Police. Sting (vocal e baixo), Andy Summers (guitarra) e Stewart Copeland (bateria) pensam que já cumpriram a sua missão. Foram duas reuniões oficiais: uma frustrada, em 1986, e outra em 2007. Na última, teve até apresentação no Rio de Janeiro, no final do ano passado. Em 30 anos de atividade, o trio conquistou gerações com a síntese perfeita entre reggae, new wave e pop. Um caso raro de banda que, com apenas cinco álbuns de estúdio, escreveu seu nome na história do rock.

15 de agosto de 2008

Tributo a um clássico

Poucos discos estão cercados de tantas histórias como o álbum branco, famoso disco duplo dos Beatles lançado em 1968. As lendas, algumas verídicas e outras não, envolvem, as brigas entre os integrantes e até indícios da “morte” de Paul McCartney, cogitada por alguns fãs desde Sgt Peppers (1967). O baterista Ringo Starr, por exemplo, abandonou o grupo, que teve de substituí-lo em algumas faixas. Eric Clapton e Yoko Ono aparecem em participações especiais. O americano Charles Manson, por sua vez, baseou-se em algumas das canções para justificar uma série de assassinatos.

No ano em que completa 40 anos, o clássico da capa branca recebe as devidas homenagens. Um disco tributo, cuja idéia nasceu de discussões em comunidades do Orkut, será lançado no Brasil. As trinta faixas foram gravadas por nomes como Zé Ramalho, Cachorro Grande, Andréas Kisser e Pato Fu. O CD duplo chega ao mercado no final de agosto e é apenas o primeiro de uma trilogia que será lançada até novembro, mês de lançamento do álbum branco original. E o melhor: segundo o pesquisador musical Marcelo Fróes, que coordena a iniciativa, a intenção é disponibilizar o material na internet.

5 de agosto de 2008

Dica: filho obscuro do gênio

O gosto pela música do Tom Zé nasceu com uma reedição do disco de estréia, o álbum de 1968, que ganhei no natal de não sei qual ano. A curiosidade, no entanto, sempre foi grande com relação ao famoso disco que trazia um ânus na capa (pelo menos era o que eu pensava), em formato de olho. Decidi então ir atrás do tal disco, Todos os Olhos, lançado em 1973. Encontrei-o numa reedição “dois em um” junto com um outro disco do qual eu não tinha ouvido falar, e por isso não tinha grandes expectativas. Mal sabia que estava subestimando uma grande obra.

Antes de inventar instrumentos e entrar de cara no experimentalismo, Tom Zé compôs sambas belíssimos ao violão. A romântica Happy End, que abre o disco, é um deleite. É prima-irmã de Se o Caso é Chorar, no mesmo estilo, um formato mais rústico (mas não menos empolgante) para quem está acostumado com as esquisitices inventivas do baiano. Ambas as músicas parecem lembrar um samba antigo, daqueles que talvez o artista ouvia ainda quando criança, na cidade de Irará, interior da Bahia. Até a letra remete à fossa dos cantores de antigamente. “Vestir toda minha dor no seu traje mais azul, restando aos meus olhos o dilema de rir ou chorar”, canta ele em Se o Caso é Chorar. Esta última, aliás, acabou virando a faixa-título quando o álbum foi rebatizado, em 1984, após ter sido relançado em LP.

Não quer dizer que, fazendo samba de raiz, Tom Zé tenha se furtado de inventar. No mesmo disco, o artista dá uma pista sobre a variedade rítmica e principalmente o experimentalismo que viria a permear sua obra até hoje. Dor e Dor e A Briga do Edifício Itália e do Hilton Hotel fazem parte deste time, quando a fossa dá lugar ao humor e à irreverência, como não poderia deixar de ser. Mas aí vem Senhor Cidadão, a sexta faixa, para confundir a cabeça do ouvinte. Citando versos desconexos do poema Cidade, de Augusto dos Anjos, Tom Zé diz coisas como: “senhor cidadão, eu e você temos coisas até parecidas, por exemplo nossos dentes, da mesma cor do mesmo barro, enquanto os meus guardam sorrisos, os teus não sabem senão morder”. E cada verso é repetido desordenadamente por um coral, como num transe. Ou numa procissão.

Terceiro disco da carreira do baiano, Se o Caso é Chorar está longe do tropicalismo da ensolarada estréia, repleta de marchinhas com referências psicodélicas. Também está longe (vá lá...) de outra obra-prima, o álbum Estudando o Samba, de 1976, cultuadíssimo no exterior. Mesmo não estando em nenhuma “lista de melhores”, Se o Caso é Chorar é um grande disco.

2 de agosto de 2008

Repetitivo como nunca

Quando XTRMNTR foi lançado, em 2000, o Primal Scream voltou a ocupar as listas de melhores do ano após um longo jejum. Meses depois, a mídia especializada considerava o disco datado e ultrapassado. No seu mais recente trabalho, Beautiful Future, Bobby Gillespie e companhia parecem ter levado a sério a idéia de soar repetitivo. Lançado na semana passada, o álbum copia fórmulas já esgotadas e chateia os fãs, ansiosos pelo groove que deu fama aos escoceses.

A coisa começa morna com Beautiful Future, esquenta em Can’t Go Back (o primeiro single), mas logo Uptown, cuja única palavra é o título, repetido à exaustão, põe tudo a perder. The Glory of Love lembra The Cure, mas também não empolga. Beautiful Summer comprova uma tendência do álbum, a de abusar da repetição. O groove de Zombie Man é a primeira lembrança do Primal Scream dos velhos tempos. A baladinha Over and Over mostra outro lampejo de inspiração da banda que nos anos 90 juntou rave e Rolling Stones no mesmo pacote. Necro Hex Blues remete (finalmente) aos melhores momentos de XTRMNTR (com participação de Josh Homme, do Queens of the Stone Age). Mas já é tarde.

O resultado final chega próximo ao razoável, muito pouco para uma banda que tem no currículo discos como Screamadelica (1991) e Give Out But Don’t Give Up (1994). Nem o toque brasileiro salva o álbum. Lovefoxxx, vocalista do Cansei de Ser Sexy, divide os vocais com Gillespie na pouco inspirada I Love to Hurt (You Love to Be Hurt). Mesmo os fãs mais ardorosos devem concordar que a carreira do Primal Scream é irregular. Mas, tivesse seguido o caminho do seu antecessor, Rock City Blues (2006) poderia pelo menos soar mais pop.

Entre as críticas que já circulam na rede desde o lançamento, há quem considere este o pior momento da discografia do Primal Scream. O próprio Gillespie, 46 anos, parece conformado. O mentor da banda classificou Beautiful Future como um “chiclete com lâminas de barbear”. Portanto, convém mastigar com cuidado.

1 de agosto de 2008

So Sad About Us

“Desculpas não valem nada quando o estrago está feito”, diz uma antiga música do The Who (So Sad About Us). O verso se aplica à fase atual da banda, em vias de ser dissolvida. A convivência entre o vocalista Roger Daltrey e o guitarrista Pete Townshend, que garantem nunca ter sido grandes amigos, tornou-se insustentável nos últimos anos. Prova disso é uma declaração recente de Pete: “Já não sou membro de uma banda chamada The Who. Sou o Pete Townshend e costumava estar numa banda chamada The Who, que hoje só existe nos vossos sonhos”.

Uma pena. Com Endless Wire (2006), último álbum de estúdio, Daltrey e Townshend deram uma mostra rara de talento e criatividade de astros em fim de carreira. Afinal, a maioria dos seus contemporâneos contenta-se em reviver o passado e colher os louros de outrora. O grupo inglês, surgido nos anos 1960, atravessou décadas fazendo rock no melhor estilo mod (subcultura londrina, derivada de modernismo) e influenciando bandas mundo afora. Ira! e Cachorro Grande, por exemplo, não existiriam sem eles. Mesmo que negue, os dois desafetos escreveram seu nome na história em petardos como We Won’t Get Fooled Again, My Generation e Baba O’Riley.

31 de julho de 2008

Obamania musical

Muito mais do que um fenômeno político, Barack Obama é um ícone pop. A música Yes We Can, baseada em um discurso do candidato à Casa Branca, foi gravada por vários artistas e virou sucesso na net. Mas as raízes musicais do democrata vão muito além do que se imagina.

Em 1959, Stanley Ann Dunham, uma garota branca de 16 anos, resolveu assistir num cinema de Chicago ao filme Orfeu Negro, baseado em peça de Vinícius de Moraes. Os atores eram negros e a trilha sonora daria origem, pouco depois, à bossa nova brasileira. O estilo afro encantou Stanley de tal maneira que dois anos depois ela se casou com um queniano “negro como breu”. Os dois tiveram um filho. Seu nome é Barack Hussein Obama. Reportagem da Veja chegou a questionar, com razão: “Será que haveria Obama sem Vinícius?”

29 de julho de 2008

Jesus voltará

Quando Liam e Noel Gallagher eram apenas dois moleques brigões, outra dupla de irmãos mal-comportados chacoalhava a Grã-Bretanha. Os escoceses Jim e William Reid, do Jesus and Mary Chain, fizeram a cabeça dos alternativos nos anos 1980 ao misturar barulho e melodia em álbuns que entraram para as listas de melhores de todos os tempos. Depois de quase acabar (de novo!), a banda virá ao Brasil em novembro. Os britânicos estão entre as atrações do festival Planeta Terra, que ocorre no dia 8 em São Paulo.

Imprevisíveis, os irmãos Reid separaram-se em 1999 e voltaram no ano passado com um dos principais shows do Coachella, festival realizado na Califórnia. Na ocasião, o Jesus and Mary Chain tocou Just Like Honey, um dos seus hinos, acompanhado da atriz Scarlett Johanson. Pela segunda vez, Jim e William irão se apresentar no Brasil. A primeira ocorreu em 1990, também em São Paulo. E, para quem está com saudade da banda, as boas notícias não param por aí. Os escoceses trabalham para lançar em breve um novo álbum, o primeiro de inéditas após dez anos (Munki, o último disco de estúdio, foi lançado em 1998).

Novo disco
Ainda sem nome definido, o próximo álbum deverá conter algumas canções já conhecidas dos fãs, como All Thins Must Pass (tocada no programa do apresentador David Letterman) e Dead End Kids, executada em alguns shows. William Reid declarou recentemente que o trabalho soa como uma evolução. “Soa sem qualquer dúvida ao Mary Chain, mas penso que evoluímos enquanto pessoas e compositores”, acredita. “Não podemos ficar inertes. Se fizermos isso, estamos perdidos.”

Replay
No começo do ano, o Jesus and Mary Chain anunciou o lançamento de versões remasterizadas de cinco álbuns: Psychocandy, Darklands, Honey’s Dead, Automatic e Stoned and Dethroned. Os dois primeiros já podem ser encontrados em edições anteriores – e por um preço bem sugestivo. Ou seja, não há desculpa para não ouvi-los.

25 de julho de 2008

Mutação sem fim

Julho de 1968 foi um mês mágico para o rock brasileiro. O país, que passava por um momento de repressão política e efervescência intelectual, viu nascer a maior banda da sua história (e do mundo, por que não?). Foi quando Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias reiventaram a psicodelia com o seu disco de estréia, batizado apenas com o nome do grupo: Os Mutantes.

Abria com uma marcha de circo (Panis et Circenses, de Caetano e Gil), passava pelo samba-rock (Minha Menina, de Jorge Ben), pelo regionalismo (Adeus Maria Fulô, de Sivuca) e pela temática afro (Bat Macumba). A romântica Baby (outra de Caetano) ganhou arranjos psicodélicos, lambidas de sorvete e a irreverência que deu fama aos Mutantes. Gravado pela Polydor, o LP contou com a produção do maestro Rogério Duprat, o mago do movimento tropicalista.

Antes de cair na chatice do rock progressivo, na década de 1970, os irmãos Dias Baptista e Rita ainda lançariam outras pérolas, dentre as quais destacam-se Mutantes (1969) e A Divina Comédia...Ou Ando Meio Desligado (1970). Hoje a banda continua na ativa, mas com apenas um membro da formação original (Sérgio), o que tira o brilho conquistado pelo trio nos velhos tempos. Com os Mutantes é assim: você sente saudades, quarenta anos depois, de uma época que nunca viveu. E precisa ter vivido?

Os Mutantes - Panis et Circenses (ao vivo na TV Cultura em 1969)