30 de abril de 2009

Clássico pixiano

Muito além de Here Comes You Man, os Pixies construíram uma das carreiras mais criativas e influentes do rock alternativo. Entre 1986 e 1993, o quarteto norte-americano foi responsável por uma obra marcada por letras surreais e inspiração punk/surf. Prova disso é o estrelado Doolittle, álbum que em abril completou 20 anos do seu lançamento.

Está certo, o grande hit da banda é uma bela canção. O riff de abertura e o refrão pegajoso deram aos Pixies uma fama inimaginável para uma banda do cenário independente. Mas a melodia alegre de Here Comes Your Man está bem longe do espírito presente em Doolittle – os próprios produtores consideravam a música uma anomalia dentro do repertório pixiano. Embora com mais peso e menos apelo pop, faixas como Debaser e Monkey Gone to Heaven, incluídas neste álbum, tornaram-se ícones do seu repertório.

Depois de Doolittle, os Pixies lançaram outros dois discos, ambos no formato independente. O sucesso nunca mais foi o mesmo, mas a influência permaneceu intacta. Sob a égide de Frack Black (vocalista e principal compositor) e companhia surgiram alguns dos nomes que hoje representam o que há de melhor no rock.

29 de abril de 2009

Revelação cruzeirense

O Calça Justa, de Cruzeiro do Sul, é uma das boas revelações do rock da região. Após abrir o show dos Garotos da Rua em Lajeado, a banda “tirou férias” dos palcos. Mas a causa é boa, já que o quinteto prepara-se para entrar no estúdio em breve. A ideia é lançar um compacto com seis músicas e no futuro, quem sabe, um CD.

O Calça Justa é formado por Bebé (vocal), Abel (guitarra), Vando (guitarra e gaita), Guilherme (baixo) e Daniel (bateria). Vale a pena procurar o som da banda no MySpace.

25 de abril de 2009

Subestimados galacianos

Costuma-se dizer que o Velvet Underground foi pouco ouvido, mas que cada um dos seus fãs montou uma banda. Um neozelandês tímido e desajustado chamado Dean Wareham estava entre eles. Influenciado pela célebre banda novaiorquina, ele fundou em 1987 o Galaxie 500 ao lado de Damon Krukowski e Naomi Yang. O termo shoegazer (referência aos músicos que tocam olhando apenas para os seus sapatos) ganhava, então, um novo significado.

O site UOL Música publicou recentemente uma lista de 20 álbuns clássicos cujos lançamentos completam duas décadas em 2009. Entre os apontados estão figurinhas carimbadas como Doolittle (Pixies), Pump (Aerosmith) e Like a Prayer (Madonna). On Fire, o segundo do Galaxie 500, também lançado em 1989, não está lá – como era de se esperar. Embora tenha sido um sucesso de crítica, o disco - como a própria banda - sempre foi subestimado.

Diferente da estreia com Today (1988), em que a suavidade ainda dividia espaço com a crueza, On Fire percorre uma fórmula que ficaria marcada como a identidade do Galaxie 500. O dream pop (não o do Cocteau Twins) do trio é uma espécie de convite para flutuar sem sair do chão.


Blue Thunder abre o disco revezando dois acordes, coisa típica de Lou Reed e companhia. Sobre uma base sombria, Wareham despeja versos simples de forma quase preguiçosa. E segue assim até o final apoteótico, em que parece querer fugir para algum lugar incerto (“I’ll drive so far away...”). Fruto da personalidade introspectiva de um sujeito que se mostra incomodado (sem motivo) com a própria voz.

A desafinação proposital e a repetição de acordes dão origem a melodias perfeitas em Strange, When Will You Come Home e Tell Me. Isn’t It a Pitty, muito mais do que uma regravação da música de George Harrison, é uma reconstrução musical que encerra o disco. Difícil é apontar apenas um ponto alto entre as dez faixas.

O Galaxie 500 acabou oficialmente em 1991. Anos depois, sua discografia completa foi relançada em CD, inclusive no Brasil. Wareham seguiu em frente com o ótimo Luna, enquanto Damon e Naomi formaram uma dupla. On Fire é o grande momento de uma banda que teve vida curta, nasceu e morreu no underground. Azar de quem não ouviu.


24 de abril de 2009

Monobanda garageira

A tradição centenária das one-man bands (bandas de um homem só) nunca foi tão garageira. Vindo de Curitiba, O Lendário Chucrobillyman pilota guitarra, bateria e outros instrumentos ao mesmo tempo, numa fusão de blues e rock que daria inveja a Meg e Jack White.

The Chicken Album, trabalho mais recente, traz canções baseadas na sonoridade caipira (há até uma versão irreconhecível de Estrada da Vida!). Tudo ao seu estilo, claro, com riffs envenenados e canções minimalistas – inspirado ora pelo blues de Robert Johnson, ora pelo punk rock. A voz, cantada com um megafone, torna tudo ainda mais experimental. Só vendo (e ouvindo) pra crer.

Ouça as músicas no MySpace

22 de abril de 2009

Sonic Youth supersônico e picante

Após anos de contrato com a Geffen - gravadora do grupo Universal - o Sonic Youth está de volta ao cenário que o consagrou: a música independente. The Eternal, novo álbum dos novaiorquinos, será lançado em junho pelo selo Matador Records, nome de prestígio no rock alternativo. A primeira faixa, Sacred Trickster, foi disponibilizada para download na internet (link abaixo).

A música é uma espécie de rock nervoso gritado pela musa indie Kim Gordon. Lembra os melhores momentos dos últimos trabalhos, em especial o irrepreensível Rathed Ripped (2006). A princípio, cumpre a promessa feita por ela de que The Eternal será repleto de "músicas supersônicas e picantes".

Formado por Thurston Moore, Lee Ranaldo, Kim Gordon, Mark Ibold e Steve Shelley, o Sonic Youth atravessou quase três décadas como referência a qualquer banda que busque caminhos experimentais para o rock.

18 de abril de 2009

Baú do Leituras: Warren Zevon

Warren Zevon foi um compositor e multi-instrumentista americano de rock. Embora tenha emplacado poucos hits nas paradas de sucesso, ganhou por cinco vezes o prêmio Grammy de música. Morreu precocemente aos 56 anos em 2003, vítima de um câncer pulmonar.

As composições de Zevon tratavam de paixões desesperadas, homicídios e lendas urbanas de forma autêntica e irônica. A mais conhecida delas, Werewolfes of London (Lobisomens de Londres), foi lançada em 1978 no álbum Excitable Boy. Influenciado por Bob Dylan, recebeu uma homenagem do ídolo em 1997, que batizou seu disco de Time Out of Mind – referência a um verso da música Accidentaly Like a Martyr, de Zevon.

15 de abril de 2009

Engajado sem ser chato

Ouvir Neil Young é como tomar um gole da sua cerveja favorita: você sabe que nunca vai se decepcionar. Aos 63 anos, o canadense esbanja fôlego no 48º álbum (!) de uma bem-sucedida carreira solo. Fork in the Road, lançado no começo de abril, pode ser ouvido pelo MySpace do compositor.

Seja com os companheiros Crosby, Stills e Nash, com quem formou um dos grandes grupos da história, ou sozinho, Neil Young sempre transformou em música os anseios de sua geração. É assim desde 1970, quando a música Ohio marcou os protestos contra a morte de quatro estudantes no governo Nixon. Em Living With War (2006), o alvo foi o governo de George W. Bush. Para mostrar que não foge da briga, e ao mesmo tempo sem ser chato e panfletário, o canadense escolheu para Fork in the Road dois temas atuais: a crise econômica e o meio ambiente.

O pano de fundo para as composições temáticas é formado pelas guitarras barulhentas que influenciaram os grunges no início da década de 1990. Recuperado de um aneurisma, Young despeja riffs como um adolescente animado com seu instrumento novo. Por trás dessa base noise está uma mensagem digna. Afinal, como ele canta em uma das músicas, “apenas cantar uma canção não vai mudar o mundo”.

12 de abril de 2009

Um hitmaker no Brasil

A Burt Bacharach são atribuídas dezenas de melodias inesquecíveis, fruto de uma obra musical extensa e irretocável. Uma das cenas antológicas da história do cinema, no clássico Butch Cassidy and the Sundance Kid, tem como trilha a famosa Raindrops Keep Falling in my Head – um pano de fundo perfeito para o fascínio de Paul Newman com a recém-descoberta bicicleta.

Aos 80 anos, o pianista e compositor começou ontem, em Curitiba, mais uma turnê pelo Brasil. Em Porto Alegre, a apresentação ocorre amanhã (segunda-feira) no Teatro do Sesi. O roteiro segue em São Paulo, dias 15 e 16, e Rio de Janeiro, dia 18. O público pode esperar por uma coleção de sucessos, entre eles I Say a Little Prayer, Walk On By e Raindrops Keep Falling on my Head.

Gravado por lendas como Elvis Presley, Beatles e Frank Sinatra, Bacharach é idolatrado também por artistas da atualidade. O Oasis, por exemplo, deixou explícita a devoção ao maestro ao colocar um pôster seu na capa de Definitely Maybe (1994). Sua participação em trilhas sonoras garantiu tanto ou mais sucesso às músicas em relação aos filmes. Em toda sua carreira, nada menos que 52 sucessos chegaram ao Top 40 nos Estados Unidos. Bacharach bem que poderia ser sinônimo de hitmaker.


11 de abril de 2009

Integração ibero-americana

O pop latino vai muito além de Maná e Fito Paez - assim como o rock, na Europa, não está restrito à Inglaterra. É o que mostra a coletânea 11 Temas, lançada pelo Senhor F Virtual e que chega à segunda edição – na verdade um apanhado da cena independente ibero-americana. Sem fins lucrativos, o projeto visa aproximar o público brasileiro de artistas oriundos de países como Espanha, México, Chile e Argentina.

A variação de ritmos vai do tango à cumbia psicodélica. O grande destaque vem da Espanha. Inspirado na capital potiguar, Manolo Tarancón compôs a música Playas de Natal, que abre esta coletânea. O Brasil está representado por duas figurinhas carimbadas do circuito alternativo: Autoramas e MQN.

A seleção das músicas foi feita pelo editor do Senhor F, Fernando Rosa. Segundo ele, o objetivo é contribuir para um maior intercâmbio da produção independente ibero-americana. “É uma ideia inspirada na Parada Senhor F, que durante muito tempo ajudou a divulgar internamente a cena independente brasileira”, explica. E o melhor de tudo: as 11 músicas podem ser baixadas gratuitamente. Basta clicar no link abaixo.

01 - Manolo Tarancón - Playas de Natal (Espanha)
02 - Dead Combo - Correria Desenfreada (Portugal)
03 - Bareto - Vacilando con Ayahuasca (Peru)
04 - Suave as Hell - The Six Year Old International Writing Star It’s (México)
05 - Sr. Chinarro - El Gran Poder (Espanha)
06 - Jiminelson - El Delincuente (Chile)
07 - La Quimera del Tango - Secuestro Express (Argentina)
08 - Autoramas - Hotel Cervantes (Brasil)
09- Supersonicos – Anguila Quick (Uruguai)
10 - Los Mentas - Mundo Porno (Venezuela)
11 - MQN - Breakin' Cristal Stones (Brasil)

Morte ainda polêmica

Passados 15 anos da sua morte, Kurt Cobain continua sendo lembrado como o porta-voz de uma geração incompreendida. Aos 27 anos, em 1994, foi encontrado morto em sua mansão, deixando órfã uma legião de fãs. Ainda hoje, a morte de um dos maiores mitos do rock continua rendendo manchetes e novas obras.

O livro Mais Pesado que o Céu (Heavier Than Heaven), lançado por Charles Cross em 2001, deve virar filme em breve. A obra reconstitui a infância pobre de Cobain em Aberdeen (EUA) até a sua ascensão meteórica à frente da banda de maior sucesso do movimento grunge, surgido no começo dos anos 1990. No cinema, o ator Ryan Gosling irá interpretar Cobain, enquanto que a viúva Courtney Love será vivida pela bela Scarlett Johansson.

O filme promete reacender a discussão sobre as circunstâncias da morte de Kurt. Para muitos fãs, a versão oficial – suicídio – está mal contada. Eles apontam evidências que provariam um assassinato premeditado pela própria Courtney. Segundo esta teoria, a famosa carta de despedida escrita pelo roqueiro não seria uma carta de suicídio, mas sim um texto sobre sua decisão de abandonar a música.

10 de abril de 2009

A nova banda de Jack White

À frente do White Stripes, Jack White tomou de assalto uma morosa cena roqueira no final da última década. Com os Raconteurs, em 2006, veio o reconhecimento mundial e um punhado de hits. Tido como um dos grandes nomes do rock atual, White resolveu adotar em seu novo projeto uma função mais longe dos holofotes. Ele é o baterista do The Dead Weather, banda que deve lançar o primeiro álbum em junho.

A vocação garageira foi mantida no primeiro single, Hang You From The Heavens. Isto torna inevitáveis as comparações com suas bandas anteriores – em especial o White Stripes. O vocal arrastado de Alison Mosshart (da banda The Kills) traz charme à barulheira, completada pelo baixista Jack Lawrence (Raconteurs) e pelo guitarrista Dan Fertita (Queens of the Stone Age).

A música será lançada em compacto de vinil tendo como lado B um cover de Gary Numan, Are Friends Eletric?. O primeiro disco, produzido pelo próprio Jack, foi batizado de Horehound.

7 de abril de 2009

Na trilha do gênio

Bob Dylan adotou uma estratégia-relâmpago para divulgar sua nova música. Beyond Here Lies Nothin', que fará parte do álbum Together Through Life, foi disponibilizada para download gratuito por apenas 24 horas na segunda-feira passada. Quem perdeu a oportunidade, terá de esperar até o dia 28 de abril – data prevista para o lançamento do CD.

A faixa disponibilizada na rede é um blues básico, bastante parecida com algumas de suas últimas canções. Se mantiver o nível dos trabalhos mais recentes, a qualidade está garantida. A trilogia iniciada com Time Out Of Mind (1997) e seguida em Love and Theft (2001) e Modern Times (2006) é considerada por muitos como uma ressurreição criativa do artista, que nos anos anteriores havia lançado discos menos inspirados.

Na estrada desde os anos 1960, Dylan afastou-se nos últimos anos do estilo folk que lhe deu projeção no início da carreira. Hoje costuma apresentar-se com uma guitarra, diferente do velho estilo voz e violão. Ao que parece, Beyond Here Lies Nothin' segue o mesmo caminho, o que representaria mais obra fundamental na carreira do gênio.