30 de junho de 2008

Indenciário

Rory Gallagher é um exemplo típico de o que o álcool pode fazer com um artista talentoso. Solitário, morreu em 1995, aos 47 anos, em decorrência de uma operação para um transplante de fígado. Se tivesse morrido 20 anos antes, talvez Rory fosse endeusado. Mas como partiu na época errada, seu falecimento mereceu não mais do que pequenas notas de rodapé de alguns jornais. Enquanto viveu, foi um guitarrista incendiário – e um verdadeiro gentleman, segundo seus amigos. A maior prova do seu talento está no álbum Deuce (1971), tido por muitos como o ponto alto da sua discografia.

O guitarrista adorava fazer shows. “Também gosto de gravar, mas preciso de um contato freqüente com o público. Isso me dá energia”, disse, certa vez. Foi com esse espírito que Rory entrou no Tangerine Studios, em Londres, para gravar Deuce. A intenção era fazer algo que se aproximasse o máximo da sonoridade de uma apresentação ao vivo. Isso explica a equalização tanto da guitarra como da voz usada em faixas como Used to Be, In Your Town e Should’ve Learnt My Lesson. Mas, se por um lado a Fender Strato era a marca registrada do músico, por outro, a sonoridade acústica lhe caía como uma luva, como é possível perceber na ótima faixa de abertura, I’m Not Awake Yet (sobre a correria que é a vida de músico), no folk de Out of my Mind e em Don’t Know Where I’m Going.

Ao lado de sua melhor banda, com Gerry McAvoy no baixo e Wilgar Campbell na bateria, Rory mostra porque foi um dos grandes guitarristas de sua época. Em 1971, era um novato (tinha 22 anos) entre os já consagrados Eric Clapton e Jeff Beck. O blues estava sendo tomado por cabeludos branquelos, e foi aí que Gallgher encontrou o seu espaço. Basta ver que, além do folk (Out of my Mind) e do rock (Persuasion, faixa-bônus da versão em CD), Deuce é repleto do blues de alta qualidade, como In Your Town e Should’ve Learnt My Lesson.

Nascido na pequena cidade de Ballyshannon (5 mil habitantes, a maioria na zona rural), no Ulster (Irlanda), Rory é até hoje uma espécie de Deus na terra natal. Todos os anos, milhares de fãs organizam um festival nessa cidadezinha, que neste ano será realizado de 31 de maio a 3 de junho. Além de sua importância como guitarrista, Rory é apontado como o homem que impulsionou o rock irlandês. Ainda hoje, fãs discutem quem teria sido o maior guitar hero da Irlanda – ele ou Gary Moore (Thin Lizzy).

Precoce e autodidata, Gallagher ganhou sua primeira guitarra aos nove anos. Aos 15, comprou uma Fender Stratocaster modelo 1961. Em 1966, formou a banda Taste com um grupo de amigos, que o impulsionaria para o estrelato anos mais tarde. O jovem Rory nem imaginava, na época, que sua música e sua personalidade seriam motivo de culto no século XXI. Se imaginasse, reagiria com simplicidade, sem estrelismos. “Ele foi um homem sensível e um grande músico”, definiu The Edge, do U2, um dos maiores fãs do guitarrista.

26 de junho de 2008

Novo do Oasis sai em outubro

Psicodélico. Assim o guitarrista Noel Gallagher definiu o novo disco do Oasis. Dig Out Your Soul será lançado apenas em outubro, mas a ansiedade já toma conta dos fãs ao redor do planeta. E, ao que tudo indica, a espera vai valer a pena. Quem ouviu o álbum inteiro diz que trata-se de rock and roll puro! Pudera: parte de Dig Out Your Soul foi gravada no lendário estúdio Abbey Road, eternizado pelos Beatles.

Segundo Noel, as músicas do novo disco levam o ouvinte a “uma viagem ácida sem ácido”. A melodia preguiçosa de I Wanna Live in a Dream, típica dos ingleses, é prova disso. Stop The Clocks, já conhecida do público, é candidata a hino. Será o primeiro lançamento deles pela nova gravadora, a Universal, e o último trabalho do baterista Zak Starkey com o grupo. Enquanto a bolacha não sai do forno, confira algumas das músicas que já vazaram na net.

I Want to Live in a Dream in my Record Machine


Stop the Clocks


Nothing on me

22 de junho de 2008

Zé Geraldo regrava clássico de Dylan

O cantor e compositor Zé Geraldo lançou o cd Catadô de Bromélias, o 16º de sua carreira, pelo seu próprio selo Sol do Meio-Dia, com distribuição Unimar Music. O álbum conta com 10 faixas inéditas sendo uma, Na Barra do seu, em parceria com Zeca Baleiro e Ultima Reza, de sua filha, também cantora e compositora, Nô Stopa. Além de trazer uma versão de um clássico de Bob Dylan, um dos grandes ídolos de Zé, Mr. Tambourine Man.

Nascido em Rodeiro, na Zona da Mata mineira, e criado em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, o cantor e compositor Zé Geraldo caiu na estrada cedo. Com 18 anos foi estudar e trabalhar em São Paulo, ainda com o sonho de se tornar jogador de futebol. Mas, um acidente automobilístico mudou o rumo de sua história e, com pouco mais de 20 anos, suas jogadas foram transformadas em versos e canções. Com mais de 30 anos de carreira, Zé Geraldo tem 15 discos lançados, fora coletâneas e compactos.

Como diria seu amigo, o cantor e compositor Guarabyra, “A sua voz ecoa nos rodeios e nas universidades fazendo sonhar, fazendo sorrir e dançar. Sem preconceito... É o inacreditável mundo de Zé Geraldo. Um brasileiro e tanto”.

18 de junho de 2008

Gueixas do rock

Já que o assunto do dia é a imigração japonesa, nada mais justo do que fazer uma referência à terra do sol nascente. As garotas do The 5.6.7.8’s, trio formado em Tóquio há 22 anos, ficaram famosas após aparição no filme Kill Bill, de Quentin Tarantino – mas merecem mais do que uma nota de rodapé por sua participação no cinema.

Yoshiko (vocal e guitarra), Sachiko (bateria) e Akiko (baixo) foram inspiradas pelo rock das décadas de 50, 60, 70 e 80 – daí o nome da banda, pouco comum e difícil de pronunciar. A maior influência vem da surf music e do rock de garagem de bandas como Sonics, Cramps e The Shaggs. Embora o som lembre bastante o punk rock, seria injusto classificar as japas como “ramones de saias”.

Um de seus maiores sucessos, a música Woo Hoo, é um cover da banda indie The Rock-A-Teens e possui apenas duas sílabas: Woo e Hoo. Em 2004, a singela canção alcançou o 28º lugar na paradas inglesas. Um feito e tanto para o estilo despretensioso das japas, que nasceram num país com pouca tradição no rock. Abaixo, o clipe de I Walk Like Jayne Mansfield, extraído do filme Kill Bill.

14 de junho de 2008

Control chega ao público gaúcho

Ian Curtis era um sujeito transtornado. Para ele, a depressão era um estilo de vida. E de morte. Após assistir uma apresentação dos Sex Pistols, em 1976, formou a banda Joy Division, um dos maiores sucessos da era pós-punk. Sentido-se desconfortável com a fama, e enfrentando um série de problemas pessoais, Curtis cometeu suicídio aos 23 anos, em 1980, enquanto ouvia o disco The Idiot, de Iggy Pop. Em sua lápide, no cemitério de Macclesfield, Inglaterra, está escrita a frase Love Will Tear us Apart, referência ao maior sucesso do Joy Division e que significa “o amor vai nos destruir”.

A vida conturbada de Curtis ganhou as telas do cinema. O filme Control estreou no final do ano passado, mas só agora chega ao público gaúcho. Dirigido por Anton Corbijn, conta com o ator Sam Riley no papel principal. O roteiro é baseado em livro escrito pela mulher do vocalista, Deborah. Control tenta sugerir que o motivo do suicídio seria a dificuldade do músico em lidar com as mulheres. Apesar da pretensão, vale a pena pelas cenas do Joy Division em ação e as imagens de Manchester, berço da banda. Agora resta esperar para que o filme chegue o quanto antes às locadoras da região.

6 de junho de 2008

Nada está perdido

O primeiro desafio na carreira dos Fratellis foi superar as comparações com Arctic Monkeys, Libertines, Strokes, Meat Puppets e, ufa!, Smiths. Eles tiraram de letra. A segunda etapa rumo ao sucesso era muito mais traiçoeira: lançar um sucessor do excelente Costello Music (2006) que estivesse à altura do disco de estréia. Here We Stand, porém, que chega às lojas nesta segunda-feira, pode decepcionar muitos dos fãs conquistados com o debut da banda escocesa.

Motivo para pânico? Felizmente, não. Se, por um lado, os Fratellis não fizeram um Costello Music 2, por outro, Here We Stand conta com um punhado de boas canções. Tell Me a Lie é rock de arena. Lupe Brown, com seu riff sônico e melodia estilo britpop, já conquistou os fãs. Acid Jazz Singer começa deliciosamente country e recupera a irreverência que tornou os Fratellis conhecidos mundialmente. A balada Milk and Money, ao piano, foge do script e os escoceses fecham o disco revelando sua admiração por Paul McCartney.

O risco é que os "irmãos" Jon, Mince e Barry Fratelli passem a levar a história a sério demais. Desde que surgiu, a banda escocesa se notabilizou por defender, com seus riffs e refrões, o princípio básico do rock: a diversão. E fez isso sem cair no saudosismo barato. Algo como se Monkeys e Libs fossem uma banda só, mas nos anos 80. O verdadeiro espírito dos Fratellis pode ser resumido na frase de Jon sobre seu projeto solo, que deve sair até o final do ano. "Não é nada demais, apenas algo para me manter ocupado." Desse espírito depende o futuro dos Fratellis.

4 de junho de 2008

O adeus a um mestre

Perguntado por um repórter sobre como se sentia tendo co-inventado o rock and roll, Bo Diddley respondeu ao seu estilo: "Não é muito diferente de nada, eu acho. Eu comecei algo. Apenas aconteceu de eu ser o primeiro". Com relação à receita para sobreviver no mundo agitado do rock, Bo disse: "Bem, um pouco porque me cuido e meu interesse é dizer aos garotos sobre se manter longe das drogas, que devem obedecer seus pais, fazer a coisa certa, ser construtivos e não destrutivos". Na segunda-feira, aos 79 anos, morreu não apenas um grande músico, mas uma grande figura humana.

"Um dos pais fundadores do rock and roll deixou o edifício que ajudou a construir", disse o comunicado da Talents Consultants, agência que empresariava o músico. Diddley morreu em sua casa, na Flórida (EUA), de falência cardíaca. Há um ano, ele sofreu um acidente vascular cerebral durante show no Iowa e foi hospitalizado em Ohama, Nebraska. Em agosto, sofreu um ataque cardíaco na Flórida. Nos últimos anos continuou a fazer turnês e gravar discos porque, segundo ele, precisava de dinheiro.

Ellas Bates - seu verdadeiro nome - ganhou o apelido famoso na década de 40, quando se mudou para Chicago e começou a tocar nas ruas. Sua marca registrada era a guitarra retangular e o ritmo que extraía dela, conhecido como "batida Bo Diddley". Ao lado de contemporâneos como Chuck Berry e Little Richard, Diddley fez parte de um grupo pioneiro de artistas negros que atravessaram a divisão racial americana para criar música que agradava ao público branco e era imitada por artistas brancos.

Entre seus maiores sucessos estão Who Do You Love, Bo Diddley, Bo Diddley's a Gunslinger, Before You Accuse Me, Mona, I'm a Man e Pretty Thing. Mesmo sem ser um freqüentador assíduo das paradas de sucesso, Diddley podia se gabar de ter influenciado alguns dos maiores nomes da história do rock. De Elvis Presley a Bon Jovi, passando por Rolling Stones, The Who, The Kinks, The Doors e muitos outros, todos beberam da fonte de mister Bo Diddley.

2 de junho de 2008

Weezer volta folk e...gospel?

Os fãs fundamentalistas do Weezer já teriam motivos para ficar surpresos com o folk de The Weight (bonus track), clássico da The Band regravado pelos californianos. O que dizer então da banda mais nerd do mundo soando gospel? Essa é a maior surpresa do sexto disco, batizado apenas de red album.

A faixa The Greatest Man That Ever Lived, inspirada numa antiga canção americana, começa hip hop e termina quase "sacra" - não sem antes passar pelo refrão guitarreiro, claro, que consagrou a banda no começo dos anos 90. São vários ritmos diferentes numa mesma música, uma espécie de Bohemian Rapsody indie. Pode ser genial ou horroroso, depende do seu estado de espírito. Melhor escolher a primeira opção.

Diga-se de passagem, as recentes fotos dos integrantes do Weezer publicadas pela imprensa davam uma mostra de que as coisas estavam mudando. O visu dos integrantes é bem diferente dos tempos de Pinkerton e do blue album, quando o vocalista Rivers Cuomo chegou a manifestar publicamente sua preguiça em tomar banhos. Sem contar a capa do novo álbum que tem circulado na internet: mais parece uma versão indie para o Village People (destaque para o chapeuzinho "cowboy gay" de Rivers Cuomo).

Se é difícil pensar de onde veio a influência do Weezer para este trabalho, a música Heart Songs confunde ainda mais. Estão lá, citados nominalmente, Cat Stevens, John Lennon, Joan Baez, Devo, Abba, Bruce Springsteen e Quiet Riot. Com o primeiro single, Pork and Beans, as coisas voltam ao normal. É o bom e velho Weezer voltando ao estilo estrofe calminha + refrão explosivo. Mas até o final do disco, outras surpresas irão rolar. Pelo bem ou pelo mal, você nunca imaginou que o Weezer pudesse soar tão original em pleno ano de 2008.

P.S.: Ahh...hoje, 2 de junho, é o dia do lançamento do red album. O Weezer está vivo!

1 de junho de 2008

Talento gaúcho

O compositor gaúcho Vitor Ramil foi um dos destaques da sexta edição do Prêmio Tim de Música. Escolhido como melhor cantor pelo voto popular, Ramil superou concorrentes como Djavan, Paulinho da Viola, Emílio Santiago, Fagner e Luiz Melodia.

O disco que deu o prêmio a compositor, Satolep Sambatown, une a milonga poética de Vitor com a percussão carioca de Marcos Suzano. Todas as 11 faixas são composições próprias. Duas participações de peso dão o toque final: o uruguai Jorge Drexler, em A Zero por Hora, e Kátia B, em Que Horas Não São.


Livro
Depois de arrebatar o Prêmio Tim, Vitor Ramil prepara a divulgação do livro Satolep. Em Pelotas, o lançamento ocorre no dia 13 de junho, às 19h, no Bistrô da Secretaria Municipal de Cultura. Na Capital, Vitor lança o livro no dia 14, 19h, na Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country. Preço médio: R$ 39. Satolep é a terceira incursão do compositor pela literatura. Vitor também é o autor de A Estética do Frio e Pequod. Esse último está disponível para download no site oficial.

Foto: Marco Antônio Filho