29 de outubro de 2008

Melodia cortante

Como uma jóia rara, a obra de Elliot Smith permanece distante do grande público cinco anos após a sua morte. Mesmo com o lançamento de dois belos álbuns póstumos, o cantor e compositor americano ainda é um artista pouco conhecido – principalmente no Brasil.

A morte foi tão emblemática quanto a sua música, repleta de arranjos suaves e melodias cortantes ao violão. Deitado na banheira do seu apartamento em Los Angeles, Steven Paul Smith (seu nome de batismo) acertou duas facadas no próprio peito. Antes, havia discutido com a namorada Chiba, que ouviu o grito derradeiro do amante. O dia era 21 de dezembro de 2003.

Para se ter uma idéia do poder de sua obra, a parede que aparece na capa do álbum Figure 8 (2000), em Los Angeles, foi transformada em uma espécie de santuário pelos fãs. Virou o Elliot Smith Memorial Wall, alvo de adoração de quem encontra um alento na obra introspectiva do compositor.

Criado em Portland, Oregon, Elliot começou a tocar piano aos nove anos de idade. Aos 10, pegou o violão pela primeira vez. Quatro anos mais tarde, quando foi morar com o pai, teve contato com as drogas e o álcool. Formado em Filosofia e Ciências Políticas, chegou a trabalhar numa padaria depois de graduado. Em 1994, lançou Roman Candle. Antes de morrer, gravou outros quatro álbuns. Dois discos foram lançados após a sua morte, From a Basement on the Hill e New Moon.

Elliot Smith - Baby Britain
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24 de outubro de 2008

A espera chega ao fim

Desde que Axl Rose anunciou o início das gravações de Chinese Democracy, mais de dez anos se passaram. O lançamento do sexto álbum do Guns N’ Roses chegou a ser cogitado diversas vezes na última década. Agora, finalmente, o disco deverá sair do forno. A nova data programada é 23 de novembro. Pelo menos desta vez, o CD já conta com um tracklist e uma capa, divulgados recentemente pela banda, o que aumenta a expectativa do público.

Chinese Democracy não é apenas o álbum mais demorado da história. Também ocupa o posto de mais caro de todos os tempos. Desde 1994, já custou cerca de US$ 13 milhões. Aos fãs, resta saber se a longa espera e o pesado investimento irão valer a pena. Com quase todas as faixas já conhecidas do público, graças à internet, o disco não tem obtido avaliações positivas em fóruns e comunidades virtuais. Se o resultado final ficar abaixo do esperado, falta de tempo e de dinheiro não serão desculpas para Axl Rose.

19 de outubro de 2008

Lisergia no britpop

O que esperar de um disco novo do Oasis? Sua impressão sobre o recém-lançado Dig Out Your Soul depende muito da resposta a essa pergunta. Se a expectativa é por inovação e quebra de paradigmas, convém não arriscar: há coisas mais criativas no mercado. Mas se o que você espera é o velho som chapado, influenciado pelos Beatles e que deu origem ao britpop dos anos 90, vá em frente.

O fã mais exigente, que quer ter despertado o desejo de tocar air guitar, como se estivesse não no seu quarto, mas em Wembley com outras 100 mil pessoas, não tem motivos para se decepcionar. É a volta da tal mágica, citada por Liam Gallagher ao lançar o novo álbum. Com influências claras do Fab Four e experimentalismo na dose certa, os ingleses produziram um disco muito à frente dos trabalhos mais recentes, já apontado por alguns fãs como o melhor desde (What’s The Story?) Morning Glory, de 1995.

Logo nas primeiras faixas, os irmãos Gallagher mostram que não estavam mentindo quando prometeram um disco psicodélico. Mas a psicodelia aqui ocorre ao estilo de Liam e Noel – que não aceitam o rótulo de britpop para Dig Out Your Soul. A abertura, com Bag It Up, é do tipo que levanta multidões.

The Shock of the Lightning e Falling Down, já conhecidas do público, têm maior potencial radiofônico, ao lado da balada I’m Outta Time. A experimental (Get Off Your) High Horse Lady, por sua vez, é a que melhor se encaixa na definição “viagem ácida sem ácido” de Liam sobre o álbum novo.

Apesar de Noel Gallagher afirmar que o álbum não tem nada de mainstream, Dig Out Our Soul alcançou o primeiro lugar em vendas no Reino Unido uma semana após o seu lançamento. O mesmo aconteceu com todos os discos de estúdio dos ingleses, desde a estréia com Definitely Maybe (1994). Enfim, caiu na rotina – o que, no caso do Oasis, é um elogio.

16 de outubro de 2008

O trovador na Oktober

Os fãs gaúchos de Zé Ramalho, que há algum tempo aguardam por um show no Rio Grande do Sul, têm um compromisso especial para este sábado. O compositor paraibano fará em Santa Cruz do Sul uma das apresentações mais concorridas da Oktoberfest.

O repertório de sua turnê atual é baseado em sucessos como Chão de Giz, Garoto de Aluguel e Admirável Gado Novo, além de regravações como O Trem das Sete (Raul Seixas).

No primeiro semestre, quem admira sua voz cavernosa e seu estilo trovador já havia ganhado um presente. O CD duplo Zé Ramalho da Paraíba, lançado pelo selo Discobertas, traz gravações do início de sua carreira, quando seu estado natal ainda estava incorporado ao nome artístico. Outra novidade, o CD/DVD Zé Ramalho canta Bob Dylan (Tá Tudo Mudando), está em fase final de gravação. Em mais de 30 anos de carreira, são 21 álbuns lançados.


Provável setlist:
1 - Mulher nova, bonita e carinhosa
2 - Beira-mar
3 - Mistérios da meia- noite
4 - Entre a serpente e a estrela
5 - A terceira lâmina
6 - Banquete dos signos
7 - Enternas ondas
8 - Avohai
9 - Vila do sossego
10 - Chão de giz
11 - Garoto de aluguel
12 - Admirável gado novo
13 - Batendo na porta do céu
14 - O trem das 7
15 - Trupizupe (não confirmada)
16 - Frevo mulher
17 - Sinônimos
18 - Vida de viajante

11 de outubro de 2008

Cem anos do samba

Em uma das cenas mais tocantes já produzidas por um documentário, Cartola está sentado ao lado do pai – com quem não conversava há mais de 40 anos. Como se fosse um conhecido casual, Sebastião de Oliveira pede ao filho que cante um samba. Cartola, dedilhando o violão, entoa vagarosamente os versos de O Mundo é um Moinho, a música que compôs quando a filha saiu de casa.

A cena ilustra a essência do maior sambista da história. Afinal, a família, a favela, os amores não correspondidos, a boemia, a vida de garçom, porteiro, lavador de carros era a inspiração para o seu samba triste e cadenciado – embora mais triste tenha ficado o samba após a sua morte. Até hoje, no dia em que estaria completando 100 anos, Cartola segue reverenciado em diversas regravações que já incluíram nomes como Beth Carvalho, Nara Leão e Cazuza, entre outros. O Sol Nascerá, por exemplo, ganhou mais de 600 versões.

Batizado equivocadamente, graças a um erro do escrivão, Angenor de Oliveira nasceu no bairro do Catete, no Rio de Janeiro, no dia 11 de outubro de 1908. Tinha oito anos quando sua família se mudou para Laranjeiras e 11 quando passou a viver no morro da Mangueira, de onde não mais se afastaria. Desde menino participou das festas de rua, tocando cavaquinho no rancho Arrepiados e nos desfiles do Dia de Reis. Passando por diversas escolas, conseguiu terminar o curso primário, mas aos 15 anos, depois da morte da mãe, deixou a família e a escola, iniciando sua vida de boêmio.

Em 1932, fundou a Estação Primeira de Mangueira. Seu primeiro LP, no entanto, só seria lançado em 1974, meses antes de o compositor completar 66 anos de idade. Gravaria mais três discos até falecer, em 1980, num domingo de primavera – como hoje. Pouco, mas suficiente para torná-lo o maior nome do samba. A melhor definição dos últimos 100 anos é a frase de um velho amigo, Nélson Sargento: “Cartola não existiu, foi um sonho que a gente teve”.

Cartola e seu pai - O Mundo é um Moinho

10 de outubro de 2008

Camaleão maranhense

“Mal eu subo no palco, um maluco me grita de lá: ‘toca Raul’”, canta Zeca Baleiro em Toca Raul. “A vontade que me dá é de mandar o cara tomar naquele lugar”, prossegue o maranhense. O verso dá o tom do novo álbum do compositor, o recém-lançado O Coração do Homem-Bomba. Nele, Zeca liberta-se de alguns estereótipos e transforma clichê em boa música (o que, convenhamos, é melhor do que transformar boa música em clichê).

Se a rima algumas vezes é pobre (“Com Lolita eu só vivia na berita”, por exemplo), a fórmula transforma o seu novo CD em uma miscelânea de ritmos. Diferente do estilo acústico/lírico/romântico que o consagrou, O Coração do Homem-Bomba é tão agressivo quanto o título sugere. Seja na regravação da imperdível Alma Não Tem Cor (do Karnak) ou na animada Vai de Madureira, Zeca mostra uma faceta irreverente de sua obra. Não é de estranhar que um de seus planos seja um disco de música infantil.

Revelação no Vale

Vem de Arroio do Meio uma das boas surpresas da região. Inspirada no que há de melhor no rock gaúcho, a Charanga disponibilizou sua primeira música na internet. Com potencial para hit, Ofélia pode ser ouvida no site www.bandasgauchas.com.br/charanga

Formada por Luiz Antonio (vocais), Lucas (baixo), Thiago Sturmer (guitarra), Felipe (bateria) e Luís Henrique (teclado), a banda tem entre suas principais influências nomes como Beatles, Los Hermanos, Cachorro Grande, Led Zeppelin e Doors.

3 de outubro de 2008

Alarme falso

Uma notícia bombástica, publicada pelo tablóide inglês The Sun, na semana passada, deixou eufóricos os fãs do Led Zeppelin. A banda estaria prestes a se reunir para uma turnê com três membros da formação original: o vocalista Robert Plant, o guitarrista Jimmy Page e o baixista John Paul Jones. As baquetas ficariam a cargo de Jason Bonham, filho do lendário baterista John Bonham. Três dias depois, no entanto, Plant (ou Inri Cristo?) negou a informação. Segundo seus assessores, o cantor está na estrada com a cantora country Alisson Krauss e não pretende começar nova jornada em menos de dois anos após encerrar a atual.

Triste. Após a morte de Bonham, os outros três integrantes reuniram-se apenas três vezez, a última em dezembro do ano passado, em Londres. Estima-se que, na época, 20 milhões de pessoas tenham tentado comprar um ingresso para o show. Sob o nome Page & Plant, o vocalista e o guitarrista fizeram uma turnê bem sucedida comercialmente na década passada, embora muito longe da magia encontrada pelo quarteto nos anos 1970. Para quem sonhava em assistir o Led ao vivo, resta o consolo de que sua discografia pode ser encontrada em qualquer loja por um preço bem razoável.