29 de novembro de 2008

Os mods estão de volta

Prestes a completar 20 anos de estrada – uma eternidade no rock independente –, o Relespública mantém a ligação com os expoentes do movimento mod. A influência de The Who, The Jam e Ira!, que acompanha a banda desde o seu início, fica evidente nas faixas de Efeito Moral, mais novo lançamento do trio curitibano.

A novidade, no entanto, é a diversidade de algumas letras e arranjos. Quando tenta parecer politicamente correto, em Não Seja Otário, Não!, o Relespública derrapa. “Tenho pena de gente que vota em ladrão”, canta o vocalista Fábio Elias. Panfletagem que não passa de um pequeno deslize, já que a faixa Homem-Bomba, também sobre problemas do mundo, não deixa nada a desejar – inclusive pelo clipe.

A epopéia de Lara Bee e o Homem que Contava Histórias, com sete minutos de duração, também aponta mudanças. Tema Pela Terra, por sua vez, é um rock rural – na letra e no arranjo – que poderia ter sido composto por Zé Rodrix.

Mas não seria justo chamar isso de evolução, já que os melhores momentos de Efeito Moral estão naquilo que Fábio, Ricardo Bastos (baixo) e Fabio Moon (bateria) fazem de melhor: rock cru inspirado nos ídolos ingleses com letras em bom português. E quando isso acontece, nem a participação de Samuel Rosa em Tudo Que eu Preciso tira o brilho do trio.

Relespública - Homem-bomba

28 de novembro de 2008

Ânimo no country rock

Dizem que, durante um show, o cantor Ryan Adams mandou embora um sujeito que pedia a música Summer of 69. Sucesso dos anos 1980, a canção foi gravada por seu quase homônimo Bryan Adams, o baladeiro autor de Have You Ever Really Loved a Woman. O episódio retrata com clareza a personalidade e a obra de Ryan Adams, cantor americano de 33 anos que desde o início da década injetou ânimo ao country rock.

Para trilhar um caminho próprio com um nome quase idêntido ao de um popstar, Ryan teve de suar a camiseta. Foram dez discos gravados desde a estréia, em 2000, com o estilo que ficou conhecido como alt country (country alternativo). Após um ótimo lançamento no ano passado (Easy Tiger), o compositor reaparece com Cardinology, reunião de canções concebidas durante a turnê anterior. São músicas de amor e que prometem embalar muitos corações solitários e apaixonados.

27 de novembro de 2008

Radiohead no Brasil

Os ingleses do Radiohead confirmaram hoje que virão ao Brasil em 2009. A banda informou em seu site que estará nos dias 20 e 22 de março no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente. O show integra a turnê do álbum In Rainbows (2007), que ao ser lançado revolucionou a maneira de fazer música. Enquanto algumas bandas famosas preferem combater o compartilhamento de arquivos pela internet, o Radiohead disponibilizou suas músicas por um preço que o próprio ouvinte poderia escolher.

Em 1997, ao lançar Ok Computer, o Radiohead dava às boas-vindas à nova era. Com Kid A (2000) Thom Yorke e companhia superaram mais um limite ao lançar um disco anti-comercial que foi sucesso de público. Se no álbum os ingleses atingem uma sonoridade incomparável, a performance ao vivo não fica para trás. Com efeitos visuais e qualidade de áudio próximos da perfeição, o show é considerado um dos maiores espetáculos da música contemporânea.


Radiohead - Idioteque

26 de novembro de 2008

Assassinos ecléticos

Ouvir The Killers é ter a certeza de que os anos 80 não foram tão ruins. A sonoridade da década retrasada, tão alardeada por revivals caça-níqueis, serve de inspiração para esse quarteto formado em Las Vegas (EUA) há apenas seis anos. Em Day & Age, no entanto, Brandon Flowers e companhia ampliam o leque de influências e mostram elementos até então pouco utilizados pela banda, como a presença de metais em algumas faixas.

O resultado pode estar longe do esperado para quem, em 2004, produziu um petardo chamado Hot Fuss, álbum multipremiado onde estão algumas das melhores canções desta década (Somebody Told Me, Jenny Was a Friend of Mine e Smile Like You Meant It, só pra citar algumas). Lançado oficialmente na segunda-feira passada, Day & Age mostra um The Killers em busca do amadurecimento – palavra tão temida quanto mal interpretada.

Conhecido nas rádios do mundo desde setembro, o single Human mostra o lado Pet Shop Boys do quarteto. Trata-se de um convite para dançar, em que Flowers pergunta “are we human or are we dancer?”. A resposta vem com Joyride, que remete à era disco. Losing Touch, com direito a metais, e a latinidade de I Can’t Stay provam que o The Killers tem um diferencial com relação a muitos companheiros de geração – que não fazem mais do que copiar fórmulas. A agitada Spaceman, uma das melhores, dá o tom de Day & Age: um álbum de rock que anima qualquer festa.

Mesmo tendo ampliado seus horizontes, uma declaração nada modesta de Brandon Flowers mostra que os Killers ainda têm um pé nos anos 80. E que esperam superar uma banda famosa época. “Podemos substituir o U2. Eles estão ficando velhos”, sentenciou o vocalista. Se isso acontecer, não será com Day & Age.

21 de novembro de 2008

Clássico experimental faz 40 anos

A capa era branca, sem desenhos ou foto dos integrantes. Não havia título, e o nome da banda aparecia escrito na mesma cor, em alto-relevo. Seria um tiro no pé para qualquer marqueteiro, mas foi assim que os Beatles fizeram um dos discos mais vendidos da história. No dia 22 de novembro de 1968 – 40 anos amanhã – era lançado o Álbum Branco, nome pelo qual ficou conhecido o disco mais experimental e ousado do Fab Four.

Sob clima de tensão, devido à presença constante de Yoko Ono no estúdio, os Beatles criaram uma obra-prima. As faixas (30 no total, em dois discos) vão da doçura de Blackbird à infantilidade de Ob-La-Di, Ob-La-Da, da fúria de Helter Skelter (espécie de pré-hardcore) ao folk de Rocky Raccoon, explorando a psicodelia em Dear Prudence e While My Guitar Gently Weeps e o rock and roll em Back in the USSR.

E tanto tempo após o seu lançamento, o novo quarentão continua esbanjando vitalidade. A primeira e histórica edição em vinil colocada à venda foi disponibilizada no site eBay pela bagatela de R$ 4 mil – pouco, se considerarmos que a genialidade não tem preço.

Tributo
O álbum branco ficou mais verde e amarelo com o último lançamento do selo Discobertas, do jornalista e pesquisador musical Marcelo Fróes. São 30 artistas brasileiros - um para cada faixa - interpretando os sucessos de John, Paul, George e Ringo. Alguns seguram a onda com classe, como Zé Ramalho (em Dear Prudence), Carmen Manfredini (Rocky Raccoon) e Cachorro Grande (Glass Onion), enquanto outros não saem da mesmice, principalmente Rodrigo Santos & George Israel (Back to the USSR) e Manfred (While While My Guitar Gently Weeps). Mas o destaque mesmo fica com os veteranos Márcio Greyck e Sylvinha Araújo, com Martha My Dear e Blackbird.

O segundo CD da trilogia deve ser lançado em breve com uma surpresa. A inédita canção Dehra Dun, regravada por Zé Ramalho, foi composta em 1968 por George Harrison, mas não chegou a fazer parte do álbum. Com isso, o compositor brasileiro torna-se o primeiro artista a registrá-la em disco.


The Beatles - Rocky Raccoon

18 de novembro de 2008

Senhor psicodélico

Brian Wilson é um artista emblemático. Nos anos 1960, à frente dos Beach Boys, criou Pet Sounds (1966), um dos melhores discos da música contemporânea. Depois, levou 37 anos para concluir a edição final do sucessor, Smile (2004). Agora, após superar problemas mentais e anos de ostracismo, lançou um CD coeso e vibrante – ao contrário dos seus colegas de geração. E já faz planos para o próximo álbum!

A atmosfera criada em That Lucky Old Sun remete à época em que Brian Wilson, hoje um senhor de 66 anos, era um garotão bronzeado na ensolarada Califórnia (o título de Forever My Surfer Girl não é por acaso). O resultado pode não garantir novos fãs, mas acertará em cheio quem já fez planos de amor ao som de Wouldn’t It Be Nice. Experimente ficar imune ao refrão de Mexican Girl, onde o backing vocal característico lembra a grande obra-prima sessentista.

Não fosse pelo refrão moderninho de Morning Beat (ótima, por sinal), podia-se jurar que That Lucky Old Sun foi gravado entre 1965 e 1967. Good Kind of Love, canção pop perfeita, lembra o tempo em que a música era inocente. Datado? No momento em que as bandas mais badaladas apostam no retrô – não apenas musicalmente –, seria injusto condenar quem deu origem a tudo isso. Em resumo: Brian Wilson lançou a pérola psicodélica do ano.

Repleto de faixas narrativas, That Lucky Old Sun é um disco conceitual sobre a infância do artista, conforme ele próprio anunciou. Com título que remete a uma antiga canção folk, foi gravado no estúdio da Capitol em Hollywood. Foi lá que, em 1962, os Beach Boys deram os primeiros passos. Qualquer semelhança com sua antiga banda, portanto, não é mera coincidência.

15 de novembro de 2008

A sensação Gogol Bordello



Provavelmente você nunca imaginou que música cigana pudesse ser tão legal. Quem acha que o gênero se resume a Sidney Magal ainda não conhece o Gogol Bordello, uma das sensações do último Tim Festival. Liderados pelo maluco Eugene Hutz, a banda nova-iorquina promoveu um carnaval punk no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Nômades como os ciganos, os integrantes provêm de diversas partes do mundo. Hutz é ucraniano, mas também há dois russos, um israelense, um etíope, um estadunidense, uma tailandesa, uma chinesa/escocesa (!), um equatoriano e um japonês/romeno (!!). Uma formação nada convencional, aliás. O clip de Wonderlust King, no entanto, mostra que é impossível ficar imune a essa incrível mistura de punk, tarantela e música folclórica do leste europeu. Press play.

14 de novembro de 2008

Brincando nas férias

Para os integrantes do Los Hermanos, férias é sinônimo de trabalho. A banda carioca entrou em recesso no ano passado, mas não deixou órfão o seu enorme séqüito. Primeiro, foi o lançamento de Ao Vivo na Fundição Progresso, registro do histórico último show no Rio de Janeiro.

Agora, as duas cabeças pensantes do quarteto, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante, aparecem com novos trabalhos no mercado. Enquanto o primeiro trilha o caminho do messianismo no seu primeiro disco-solo, o segundo agrada com o consistente Little Joy (foto), projeto formado em parceria com o baterista brasileiro dos Strokes, Fabrizio Moretti.

Sou, de Camelo, é basicamente voz e violão. E assovios. As letras são abstratas, como se acreditasse em quem o comparou a Chico Buarque – o equivalente a colocar Wagner Love e Ronaldinho no mesmo balaio. A menina-prodígio Mallu Magalhães tenta socorrer o amigo em uma música em inglês (Janta), mas o vocalista só se salva mesmo com Mais Tarde e Menina Bordada, que devem convencer os fãs.

O Little Joy, esse sim, lançou um trabalho sem egocentrismos, embora não muito original. Salva-se pelas belas melodias e pela sonoridade que, inevitavelmente, lembra as outras bandas de seus integrantes. Enfim, tem hermano para todos os gostos.

13 de novembro de 2008

O adeus a Mitch Mitchell

O centro das atenções no The Jimi Hendrix Experience sempre foi o célebre guitarrista americano. Mas é impossível desprezar a importância da cozinha formada pelo baixista Noel Redding e pelo baterista Mitch Mitchell, que o acompanharam entre 1966 e 1969. Com groove e experimentalismo bem dosados, os dois construíram um pano de fundo perfeito para a Strato de Hendrix, sendo muito mais do que meros coadjuvantes.

Após ajudar a definir os rumos do rock psicodélico, Mitch descansou as baquetas nesta quarta-feira. Ele foi encontrado morto, possivelmente de causas naturais, em um quarto de hotel em Portland, nos Estados Unidos. Tinha 61 anos. Embora não tenha alcançado a mesma notoriedade de seus companheiros de geração, como Keith Moon e Ginger Baker, deu sua contribuição para que a bateria deixasse de ser um instrumento secundário.

Mesmo tendo um estilo próprio, Mitchell sempre esteve ligado à imagem de Hendrix. Nos últimos anos, excursionava com o Experience Hendrix Tour, projeto que homenageava, junto com outros músicos, o seu antigo colega de banda. Último integrante vivo (Jimi morreu em 1970 e Redding em 2003), entrou para o Rock’n Roll Hall of Fame há cinco anos – lugar para onde vão os imortais como ele.

The Jimi Hendrix Experience - Purple Haze

7 de novembro de 2008

Em alta cotação

A crise mundial chegou ao rock com o novo disco do AC/DC. Não que Black Ice, recém-lançado pelos australianos, esteja em baixa na cotação internacional. Pelo contrário: os riffs potentes do guitarrista Angus Young e o vocal afiado de Brian Johnson levantam qualquer bolsa de valores. Mas, para o jornal inglês The Guardian, a banda é a grande responsável pela recessão econômica. A justificativa é que o disco rendeu ao grupo o topo das paradas britânicas, o que não acontecia desde Back in Black, em 1980 – justamente o ano em que a inflação chegou a 20% e o desemprego atingiu quase dois milhões de cidadãos na Grã-Bretanha.

Brincadeiras à parte, Black Ice agradou os fãs, esperançosos por mais uma vinda da banda ao Brasil. Para eles – que acreditam que a fórmula utilizada há três décadas não ficou ultrapassada –, a crise está longe. Até porque depois de um álbum irregular, Stiff Upper Lip (2000), os australianos voltaram à velha forma. Fidelidade às raízes, pelo menos, é o que não falta. A palavra rock aparece no título de quatro das 15 músicas. Logo na faixa de abertura, Rock N’Roll Train, percebe-se pelo nome a vocação de Angus Young e companhia: hard rock em volume alto para ouvir na estrada.

4 de novembro de 2008

Para ler e ouvir

A Feira do Livro de Porto Alegre também é feita de música. Nas bancas situadas na Praça da Alfândega encontram-se publicações destinadas aos fãs de todos os gêneros - algumas delas a um preço bem razoável. Basta revirar bancas e saldões. Boa sorte!



Mais pesado que o céu: uma biografia de Kurt Cobain, de Charles R. Cross
Biografia completa do líder do Nirvana, que se suicidou em 1994. A pesquisa de Cross durou quatro anos. Foram mais de 400 entrevistas e livre acesso a diários, letras e fotos do músico. Ele reconstitui a infância de Cobain, desde quando vivia em um trailer com a família, até a sua ascensão meteórica e a conturbada relação com Courtney Love, entre outros temas. Editora Globo



Beatlemania, de Ricardo Pugialli
Não se trata de uma biografia, mas de um passeio histórico pela carreira de Paul, John, Ringo e George. George Martin, o lendário produtor dos Beatles, escreveu o prefácio da obra. O livro traz fatos marcantes, fotos e histórias nunca antes reveladas. Editora Ediouro






Vale tudo, de Nelson Motta
Biografia do mais polêmico cantor da música brasileira. A partir de um intenso trabalho de pesquisa e da sua convivência com Tim Maia, o jornalista e produtor musical Nelson Motta conta, ao ritmo irresistível do rei do samba-soul, a sua história de som, fúria, excessos e gargalhadas. Morto em 1998, Tim Maia definia-se como gordo, preto, cafajeste, formado em cornologia, sofrências e deficiências capilares. Editora Objetiva



Sargento Pimenta Forever, de Robson de Freitas Pereira (org.)
O tema aqui é o disco mais cultuado de todos os tempos, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles. Mas o enfoque do livro é diferente. Sargento Pimenta mostra, à luz da psicanálise, o significado das canções num total de 15 textos – um para cada música, incluindo dois bônus. Editora Libretos


Paul McCartney: Todos os segredos da carreira solo, de Claudio D. Dirani
Repleto de dados técnicos sobre a carreira solo do ex-beatle: os discos, as canções e tudo o que aconteceu durante cada etapa e cada turnê. Traz ainda entrevistas exclusivas com fãs, amigos especiais e colaboradores. Editora Lira





Sexo, drogas e Rolling Stones, de Nélio Rodrigues
Chegou às lojas junto com o documentário Shine a Light, de Martin Scorsese. O livro cobre a carreira de Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood desde os primórdios, em 1962, até a estréia do filme no Festival de Berlim. Editora Agir





Foto: Luis Ventura/divulgação

1 de novembro de 2008

Ressaca gótica

Lançar um disco novo sem ter nada “novo” de fato é um desafio e tanto. Robert Smith, líder do The Cure, resolveu arriscar. A banda inglesa, sucesso nos anos 1980 em meio à onda pós-punk, gravou 4:13 Dream, o 13º álbum da carreira, como se curtisse a ressaca de uma noite oitentista. Deu certo. Ao contrário do depressivo Bloodflowers (2000), penúltimo trabalho, o disco apresenta um The Cure feliz consigo mesmo, com saudade (e resquícios) dos seus tempos áureos.

Se a coisa começa morna com a cansativa Underneath the Stars, o The Cure retoma nas faixas seguintes a energia da década em que, esteticamente, tudo era permitido – até fazer gatos dançarem no clipe de The Lovecats. As músicas Only One e Reasons Why lembram megahits como In Between Days e Friday I’m in Love. Nostalgia? Picaretagem? Quem se importa? 4:13 Dream é o melhor trabalho do Cure em muitos anos. Em tempo: o álbum estará disponível nos formados CD, LP e digital.