30 de janeiro de 2009

Questão de justiça com o Metralha

“Depois que o tempo passar sei que ninguém vai se lembrar que eu fui embora”, cantava Nelson Gonçalves em Quando Eu Me Chamar Saudade, música em que prevê as futuras homenagens póstumas. Dito e feito. Não fosse por duas reportagens das revistas Rolling Stone e Aplauso (ambas de autoria do jornalista Cristiano Bastos), o 10º aniversário da morte do Metralha – que partiu em 1998 – teria passado em branco.

Em 2009, pelo menos, a história deve ser diferente. Ainda sem data de lançamento definida, o DVD Eternamente Nelson (Sony/BMG) trará gravações históricas do segundo cantor que mais vendeu discos no Brasil (atrás apenas de Roberto Carlos). As imagens são fruto de um especial gravado para a Rede Globo, com a participação de Evaldo Gouvêa e Nelson Cavaquinho. Nos extras, o espectador terá acesso a vídeos reveladores – incluindo comentários sobre o seu vício em cocaína.

Nelson Gonçalves morreu no dia 18 de abril de 1998, no Rio de Janeiro. No ano passado, durante esta data, a grande imprensa parecia interessada apenas no caso Isabella Nardoni, ignorando a efeméride musical. Por isso, mesmo sem data comemorativa, o lançamento de Eternamente Nelson corrige uma injustiça. E, para um país de memória curta, esta já é uma grande novidade.

29 de janeiro de 2009

O jeito ramone de ser

Lobos Não Usam Coleira, quinto disco dos gaúchos do Tequila Baby, é um álbum de altos e baixos. Está muito aquém do melhor trabalho do quarteto, Punk Rock Até os Ossos (2002). Mas conta com momentos inspirados, que podem fazer o fã dos Ramones sacudir a cabeça – embora seja insuficiente para recolocar o Tequila no cenário do rock gaúcho com a mesma força de seis anos atrás.

Após anos na Antídoto, e depois na Orbeat Music, este é o primeiro lançamento independente da banda. Isso explica a baixa divulgação do CD, lançado ainda em 2008. Para compensar, o quarteto utilizou a internet como aliada. Algumas músicas foram disponibilizadas no MySpace e no site oficial. Mas, para quem curte o jeito punk de ser – influenciado sobretudo pelos primeiros álbuns dos Ramones –, o desaparecimento do grupo no mainstream não faz a menor diferença.

O álbum foi produzido pela própria banda junto com o produtor Beat Barea. O clipe do primeiro single, Aleluia, tem direção de Rodrigo Vidal e Vicente Teixeira, da Eureka Produtora, e foi realizado em parceria com o Teatro Cia das Artes e o Gripo Anima Sonho, sob coordenação de Ubiratan Carlos Gomes.

Tequila Baby - Aleluia


26 de janeiro de 2009

Quando Ronnie Von era gênio

A Jovem Guarda agonizava em 1969. Enquanto Roberto Carlos entrava de cabeça no soul (As Curvas da Estrada de Santos e Não Vou Ficar são desta época), o tropicalismo respondia pelo que havia de mais criativo na música brasileira. Neste ano, o príncipe decidiu que não ficaria à sombra do rei.

Após fazer sucesso com A Praça e Meu Bem, Ronnie Von deixou as fãs horrorizadas com sua experiência psicodélica. O LP homônimo lançado num mês de janeiro – há 40 anos – desapontou os produtores pelo baixo apelo comercial. Hoje, é disputado a preço de ouro por colecionadores. Fã de música erudita e cercado por gente como Rogério Duprat e Damiano Cozzella, maestros vanguardistas com fama de malditos, o príncipe gravou um álbum influenciado pelo rock internacional da época, mas incompreensível para o público acostumado com o Iê-Iê-Iê.

A abertura do LP não poderia ser mais simbólica. Meu Novo Cantar, com introdução cantada em versos emblemáticos (“Eu procurei o caminho no vento, mas ele não soprou”), resume as intenções do cantor. “Doa a quem doer, agora eu vou cantar, meu canto é pra valer, meu canto é pra mudar”, canta Ronnie. O clima lisérgico, com vinhetas absurdas, permanece nas demais faixas.

Espelhos Quebrados é tão surrealista quanto Lucy in the Sky with Diamonds, com arranjo que se aproxima de Eleanor Rigby. A influência de Jimi Hendrix, por sua vez, aparece no riff de Sílvia: 20 Horas Domingo, que começa com o jingle publicitário de um bar paulistano. Em Anarquia, um diálogo improvável entre Cozzella e Ronnie antecede a música cujo título define com precisão a sua época.

A experiência psicodélica rendeu a Ronnie Von anos no ostracismo e queda nas vendas. O primeiro volume seria sucedido por outros dois álbuns, A Misteriosa Luta do Reino do Parassempre Contra o Império de Nunca Mais (outubro de 1969) e Minha Máquina Voadora (abril de 1970), que completam a trilogia psicodélica do cantor. O sucesso foi recuperado na década de 1970, com aparições em programas de televisão e discos mais comerciais. Mas a pérola psicodélica lançada em janeiro de 1969 será para sempre o seu auge criativo – assim como um dos melhores álbuns da música brasileira. Doa a quem doer.

Sílvia: 20 horas domingo

25 de janeiro de 2009

A trilha de um sonho

A eleição de Barack Obama não deu fôlego apenas às esperanças de paz e igualdade racial. O fato, amplamente comemorado mundo afora, também inspirou o melhor disco lançado neste início de ano. Como todo momento histórico, a posse do primeiro presidente negro dos Estados Unidos precisava de uma trilha sonora. Ninguém melhor do que Bruce Springsteen para encarar a tarefa com seriedade e sem oportunismos.

Lançado no dia 19, um dia antes da posse de Obama, o álbum Working on a Dream soa como comemoração ao fim dos oito anos de George W. Bush na Casa Branca – sem apelar, felizmente, para a panfletagem gratuita. A faixa-título, momento crucial do CD, foi tocada pela primeira vez em um concerto de campanha do então candidato democrata à presidência. Com sonoridade acústica e letra engajada, leva até os mais céticos a acreditar no sonho.

Nem só de Obama, no entanto, é feito Working on a Dream. Há espaço para canções de amor (What Love Can Do, Queen of the Supermarket) e uma epopéia estilo faroeste (a extensa Outlaw Pete). Insensível à causa, a crítica norte-americana tem considerado este o pior álbum de Springsteen. Saudades de Bush? Os fãs do Boss, pelo menos, pensam diferente.

Working on a Dream mostra que música e política podem ter muito em comum. Neste caso específico, porém, a primeira leva vantagem. Carregando nas costas as esperanças dos americanos após o desastre da era Bush, Obama pode até decepcionar. Springsteen não.

16 de janeiro de 2009

Repetição na pista

Quem ouve Franz Ferdinand busca pelo rock dançante, influenciado pelo pós-punk, que consagrou a banda escocesa nos últimos cinco anos. Normal. O problema é quando a fórmula começa a se tornar repetitiva demais. Tonight, terceiro álbum do quarteto e um dos lançamentos mais aguardados de 2009, está longe de ser um disco ruim. Mas, mesmo agradando aos fãs, pouca novidade acrescenta à carreira do grupo de Glasgow.

Autores de alguns dos maiores hits da década (quem não conhece Take Me Out e Walk Away?), os escoceses ousaram no início da década ao misturar a rebeldia dos Strokes com a irreverência despreocupada do pop oitentista, influenciando uma geração de bandas que tentaram – sem o mesmo talento – fazer rock para a pista de dança. O mesmo não se pode dizer de Tonight. Ainda assim, é um disco de rock, repleto de boas canções e alguns ótimos momentos como Ulysses e Bite Heard.

Em tempo: o lançamento oficial é no dia 26, mas as músicas já vazaram na internet.

13 de janeiro de 2009

Macaco Bong: o disco do ano

Conciso, diversificado, pesado e psicodélico. Estes foram os adjetivos usados pela revista Rolling Stone para justificar a eleição de Artista Igual Pedreiro, estreia do trio Macaco Bong, como o melhor álbum nacional do ano de 2008. O disco pode ser baixado gratuitamente aqui.

Gravado no estúdio RockLab, em Goiânia, com produção de Gustavo Vasquez (MQN) e lançado em parceria pela Monstro Discos e Fora do Eixo, o CD encabeça uma lista que inclui Mallu Magalhães, CSS, Lenine e Cérebro Eletrônico, entre outros. A RS afirma ainda que o disco é “uma estreia para entrar na história” e que “com estruturas típicas do jazz, virtuoses e experimentações na medida, o Macaco Bong mostra maturidade na dosagem de peso e suavidade, angariando fãs e admiradores sem nem ao menos precisar abrir a boca”. Além do álbum, a música Amendoim entrou na lista das melhores do ano.

Outro disco Monstro também figura na lista dos 25 melhores de 2008. Segundo a publicação, Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha, dos gaúchos da Pata de Elefante, “prima pela eficiência”. “Ainda que instrumental, é rock, direto e de fácil digestão, sem ser exageradamente virtuoso e sem apelar para solos longos demais.”

Com informações da Monstro Discos

12 de janeiro de 2009

Estreia do Led completa 40 anos

O refrão incendiário de Good Times Bad Times, faixa de abertura, era o prenúncio de uma nova era no rock. A beleza lírica de Babe I’m Gonna Leave You mostrava que, dentro deste conceito, também havia espaço para baladas – desde que ganhassem peso. O blues de You Shook Me e I Can’t Quit Yoy Baby, muito mais do que uma homenagem a Willie Dixon, antecipava a escolha dos músicos pelo blues elétrico. Foi assim que, no dia 12 de janeiro de 1969 – há exatos 40 anos –, o Led Zeppelin começou a escrever seu nome na história.

Homônimo, conhecido pelos fãs como Led I, o debut dos ingleses foi gravado pela Atlantic Records em 1968. Fortemente influenciado pelo blues, foi criticado na época do seu lançamento por suposta falta de criatividade. Mas foi com este disco que Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham abriram caminho para uma ascensão meteórica, que viria culminar com o lançamento de tantos outros álbuns clássicos.

Ao entrar em cena logo após a efervescência do rock psicodélico (que teve seu auge em 1967) e em meio ao advento do rock progressivo, o quarteto britânico abriu caminho para um novo gênero, o heavy metal. Led I é considerado por muitos o primeiro lançamento do estilo que em seguida seria popularizado pelo Black Sabbath – apesar da raiz blueseira. Uma definição, porém, encaixa-se perfeitamente às nove músicas deste álbum: R-O-C-K.

Grande parte dos atuais fãs do Led Zeppelin sequer tinha nascido quando Led I chegou às lojas pela primeira vez. Mesmo assim, passados 40 anos da estreia, é grande a expectativa por uma reunião dos integrantes originais da banda. Um feito notável, ao alcance apenas dos grandes deuses do rock.

9 de janeiro de 2009

Vida pós-Cavalera

O nome Cavalera esteve associado ao Sepultura desde o surgimento da banda, em 1983. Por isso, a desconfiança dos fãs é natural ao ouvir A-Lex, primeiro trabalho do quarteto após a saída do baterista Iggor, afastado em 2006 (seu irmão, Max, havia deixado o grupo em 1996). Apesar de incluir elementos estranhos ao metal, o disco mantém a agressividade tradicional de uma das bandas brasileiras que mais fazem sucesso mundo afora.

Se por um lado a participação do novo baterista Jean Dolabella é modesta (em comparação com Iggor), por outro, o vocalista Derrick Green gravou aquele que já é considerado o seu melhor trabalho desde que chegou à banda. Faltando duas semanas para o lançamento oficial, marcado para 23 de janeiro, as músicas já podem ser encontradas na internet – o que provocou euforia entre os fãs. Como um disco conceitual, inspirado no livro Laranja Mecânica (A-Lex, em russo, significa “sem lei”), o Sepultura mostra que existe vida pós-Cavalera.

8 de janeiro de 2009

Ano começa com atrações internacionais

O ano de 2009 promete. Pelo menos em termos de música. Uma série de shows internacionais deve ocorrer no Brasil a partir deste mês. É bom ficar atento ao calendário e ir preparando o bolso...

Alanis Morissette
A cantora canadense de 34 anos vem a Porto Alegre no dia 10 de fevereiro. Ela apresenta as canções do seu último álbum, Flavor of Entanglement. A turnê, iniciada na Europa, inclui outras 11 capitais brasileiras. Ingresso:

Amy Winehouse
A inglesa doidona é outra que pode pintar no Brasil em 2009. A promotora Mondo Entretenimento garante que ela vem, mas ainda não há datas.

Coldplay
Em março, a banda inglesa deve se apresentar em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Belo Horizonte.

Elton John & Band
O primeiro grande show internacional do ano. Sir Elton John traz uma avalanche de clássicos pop, com abertura do discípulo James Blunt. Dia 17 de janeiro em São Paulo e dia 19 no Rio de Janeiro. Ingresso: R$ 550 (pista premium) e R$ 250 (pista/arquibancada)

Iron Maiden
Os mestres do metal, que no ano passado estiveram em Porto Alegre, voltam ao país. Dia 12 de março em Manaus, 14 no Rio, 15 São Paulo, 18 em Recife e 20 em Brasília. Ingresso: R$ 168 pista (em SP)

James Blunt
Quem ainda não enjoou de escutar You’re Beautiful, Same Mistake e outros sucessos co cantor inglês poderá conferi-los ao vivo no dia 27 de janeiro em Porto Alegre.

Keane
O grupo britânico se apresenta no dia 10 de março em São Paulo. No repertório, hits consagrados e músicas do álbum mais recente, Perfect Simetry. Ingressos: R$ 90 a R$ 320

Little Joy
O trio que inclui o hermano Rodrigo Amarante e o stroke Fabrizio Moretti vem a Porto Alegre no dia 27 de janeiro, com ingressos a R$ 50. A turnê brasileira deve incluir São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador e Recife.

Radiohead (abertura com Kraftwerk)
A banda informou em seu site que estará nos dias 20 e 22 de março no Rio de Janeiro e em São Paulo, respectivamente. O show integra a turnê do álbum In Rainbows (2007).
Ingresso: R$ 200

Oasis
Os irmãos Gallagher planejam uma turnê latino-americana para o primeiro semestre de 2009, o que poderá incluir o Brasil no roteiro.

Of Montreal
Os americanos apresentam em maio o seu indie pop animado.

Sonic Youth
Ícones do indie rock, o quarteto nova-iorquino chega em maio. Não foram divulgadas datas e locais.

Wilco
A banda americana de rock alternativo confirmou dois shows no país em abril, mas ainda não há datas, locais e preços definidos.

6 de janeiro de 2009

Rock dá adeus a Ron Asheton

Poucas bandas foram tão contestadoras quanto os Stooges. Na virada dos anos 1960, o grupo de Michigan (EUA) plantou a semente do que viria a ser – quase dez anos depois – o punk rock. Por trás da atuação performática de Iggy Pop havia uma coleção de riffs tocados de maneira crua e abusando do wah-wah. O responsável por isso, Ron Asheton, morreu hoje aos 61 anos.

O autor de algumas das notas mais barulhentas do rock foi encontrado morto em sua casa, na cidade de Ann Arbor, Michigan. Ao lado de Iggy Pop (vocal), do irmão Scott Asheton (bateria) e de Dave Alexander (baixo), Ron formou em 1967 uma banda com o singelo nome de Os Patetas (The Stooges).

Com eles, gravou os álbuns The Stooges (1969) e Fun House (1970). Após um tempo afastado, voltou à banda em 2005, quando os Stooges estiveram no Brasil para um show no festival Claro que é Rock. Em 2007, participou das gravações de The Weiderness, quarto álbum de estúdio da banda.

Recentemente, a revista Rolling Stone apontou Asheton como o 29º melhor guitarrista de todos os tempos, em lista encabeçada por Jimi Hendrix. Mas talvez a melhor definição para a sua importância no rock esteja em uma frase de Iggy Pop: “Qualquer guitarrista que faça vale o seu salário é basicamente um matador”. Foi assim com Ron Asheton.