Foi no apartamento de Nara Leão, em Copacabana, que surgiram os primeiros e complexos acordes da bossa nova. Cercada por gente como Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Carlos Lyra, a cantora ganhou a alcunha de musa do movimento que acabava de surgir – embora tenha sido muito mais do que isto.
Na voz doce e melancólica de Nara o samba do morro ganhou destaque e foi popularizado no “asfalto”, resgatando compositores como Cartola e Zé Keti. Este último participou com ela do espetáculo Opinião, em 1964, que criticava a repressão do regime militar. Gravou, em interpretações inesquecíveis, algumas das primeiras canções de um jovem compositor chamado Chico Buarque de Hollanda. Aderiu, ainda, ao movimento tropicalista, tendo participado do disco-manifesto Tropicália ou Panis et Circenses.
Chamar de musa da bossa nova a cantora que morreu há exatos 20 anos, em decorrência de um tumor, pode dar uma ideia errada sobre uma carreira tão diversificada quanto brilhante. Para registrar cada faceta da artista o jornalista Cássio Cavalcante passou oito anos recolhendo material para A Musa dos Trópicos, biografia lançada pela Companhia Editora de Pernambuco.
Para o autor, Nara “foi a primeira cantora branca carioca a revalorizar o samba de morro, sendo o porta-voz dos intelectuais quando se tornou uma cantora de protesto, que não se calou diante da ditadura militar”. Como ela, não houve mais ninguém.
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