Aveludada, grave, um baixo profundo: nem uma infinidade de adjetivos seria suficiente para definir com precisão a voz de Noriel Vilela. O carioca, que começou a carreira com o grupo Nilo Amaro e os Cantores de Ébano, morreu em 1975 e deixou apenas um disco, Eis o Ôme (Copacabana, 1968). Quarenta anos depois do lançamento, sua música continua conquistando fãs e seu vozeirão aparece com freqüência em comerciais, vinhetas de televisão e trilhas sonoras.Aonoriel Vilela de Arantes (seu nome de batismo) gravou seu primeiro e único LP com forte influência afro. A cultura de umbanda e os causos do terreiro tomam conta das letras divertidas, revestidas pelo balanço que influenciou os grandes bambas do samba-rock. Em outras palavras, o legítimo samba de preto-velho. Destaque para as ótimas Saudosa Bahia, Promessado e a faixa-título, sempre com o tom de voz marcante e inimitável.
“E enquanto Noriel ‘espichava’ até um metro e oitenta e três, a voz descia até um fá natural profundo e aveludado, que ecoava nas serestas das noites de sábado e nas festinhas eventuais”, descreve Malu Rodrigues no texto de contracapa do LP. O disco único de Noriel foi lançado em CD pela EMI, dentro da série Odeon 100 anos – organizada pelo músico Charles Gavin. A carreira do tenor do samba foi abreviada por uma morte trágica, no dia 20 de janeiro de 1975. Diabético, Noriel sofreu uma hemorragia ao arrancar um dente e não resistiu.
A música mais famosa do intérprete, Dezesseis Toneladas, não está incluída no álbum. Versão em português para Sixteen Tons (de Ernie Ford e Merle Travis, um clássico do folk americano), a canção em nada lembra a atmosfera umbandista de Eis o Ôme. Mas, através de Dezesseis Toneladas (regravada por Clube do Balanço e Funk Como Le Gusta), a obra de Noriel se tornou conhecida entre a nova geração.
Curiosidade
Cheia de “malandragem”, a letra de Sixteen Tons foi totalmente alterada na versão brasileira. Composta em 1947, a música contava o sofrimento dos trabalhadores nas minas de carvão. Como muitos músicos folk eram considerados comunistas, agentes do FBI proibiram a execução do hit nas emissoras de rádio.












Mas a resposta não foi apenas no nome do álbum. Roberto Carlos lançou um verdadeiro divisor de águas na sua carreira. Enquanto os outros tentavam imitar o ídolo adolescente da Jovem Guarda, RC deixou de lado o iê-iê-iê para gravar um disco denso, perturbador, capaz de unir a infantilidade de “É meu, É meu, É meu” com a solidão de “Madrasta”. Somadas a canções eternas como “E não vou mais deixar você tão só”, “Se você pensa” e “As canções que você fez pra mim”, o Rei deixava de ser um rebelde sem causa para marcar seu nome definitivamente entre os grandes da música brasileira.



Na segunda metade do CD, os alagoanos revelam a sua poesia beatnik na ultra-psicodélica Uma Leitura Mineral Incrível - que aparece novamente em versão acústica no final do disco. "Peixes hidráulicos", ratos que são cristais numa prateleira, sapatos e máscaras misturam-se num mosaico guiado por João Paulo, Júnior Bocão, Hélio Pisca e Leonardo. A viagem passa pela melosa A Carta, momento mais sentimental do Mopho, e encerra com o riff potente de Vamos Curtir um Barato, cheia de insinuações ("eu tenho milhares de dedos e olhos brilhantes").
Carlos Callado, biógrafo da banda, descobriu as gravações em 1995, mas só em 1999 o produtor Marcelo Fróes conseguiu convencer a gravadora a lançar o disco. Com ilustrações de Sean Lennon, Tecnicolor é cantado em inglês, francês, espanhol e português, mas é uma típica representação do experimentalismo brasileiro promovido pelo tropicalismo. A variedade rítmica, no entanto, não teria sido tão espontânea como se pensa. O produtor Carl Holmes pressionou Rita, Arnaldo e Serginho a fazer um som “mais brasileiro”, aproximando o rock de gêneros como o samba, a bossa-nova e o baião.