2 de maio de 2008

E aquele disco dos Mutantes...

Alagoas nao é apenas o estado de Fernando Collor, Renan Calheiros e Heloísa Helena. Fui descobrir isso depois de ouvir o CD de estréia do Mopho. E que estréia! Tanto que aprendi a ter mais apreço por este desconhecido estado. Desde a Sétima Efervescência (1995), do gaúcho Jupiter Maçã, o rock nacional não havia percorrido com tanta precisão os caminhos tortuosos da psicodelia.

A referência aos ídolos sessentistas não está apenas na sonoridade e na capa do disco (que remete a 1967), mas é nominal. Os Mutantes são citados na faixa de abertura. Com uma introdução de teclado, como o Laffayette da Jovem Guarda, Nada Vai Mudar é daquelas músicas que não saem da cabeça de quem ouviu uma única vez. O disco segue com a irreverência de A Geladeira (mera semelhança com Meu Refrigerador Não Funciona, de Arnaldo, Rita e Serginho?). Não Mande Flores, com maior potencial para hit, é Beatles puro. O andamento lembra Don't Let Me Down e a letra resgata a tríade sexo, drogas e rock and roll. No século XXI, originalidade não é sinônimo de boa música. O disco do Mopho é. E estamos falando só das três primeiras faixas.


Na segunda metade do CD, os alagoanos revelam a sua poesia beatnik na ultra-psicodélica Uma Leitura Mineral Incrível - que aparece novamente em versão acústica no final do disco. "Peixes hidráulicos", ratos que são cristais numa prateleira, sapatos e máscaras misturam-se num mosaico guiado por João Paulo, Júnior Bocão, Hélio Pisca e Leonardo. A viagem passa pela melosa A Carta, momento mais sentimental do Mopho, e encerra com o riff potente de Vamos Curtir um Barato, cheia de insinuações ("eu tenho milhares de dedos e olhos brilhantes").

Editado pelo lendário Luiz Calanca e sua Baratos Afins, o CD homônimo do Mopho está longe da perfeição em termos de produção. Ao longo da história, foi este ingrediente, o low fi, que deu o toque final aos grandes clássicos do rock. Neste caso não foi diferente.

Em pleno ano 2000, o Mopho age, tanto no estúdio como no palco, como se estivesse na Califórnia da virada da década de 1960. Sorte nossa.

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