20 de maio de 2009

Um tabu nos cinemas

Em conversa numa roda “politicamente muito correta”, Luiz Carlos Miéle sentenciou: “o maior cantor do Brasil foi o Simonal”. Houve um desconforto geral no grupo, que não concordou com a afirmação. “Então quem foi?”, quis saber Miéle. Ficou sem resposta.

A cena é descrita no documentário Simonal – Ninguém sabe o duro que dei, que acaba de chegar aos cinemas. Com depoimentos de artistas, amigos e familiares, o filme resgata a trajetória do cantor e apresentador de televisão que, após ter sido um fenômeno de popularidade nos anos 1960, envolveu-se em um dos casos mais rumorosos da música brasileira.

Enquanto a classe artística mobilizava-se contra a ditadura militar, Simonal foi acusado, em 1971, de ser informante do Dops. Tudo por conta de uma surra que o cantor teria mandado aplicar no seu contador, devido à suspeita de que ele o roubava. Ocorre que o “serviço” foi executado por agentes do temido departamento, um dos braços armados do governo militar.



O castigo pela surra foram três décadas no ostracismo e, como consequência, a derrota para o alcoolismo. Seus discos foram retirados de catálogo, e tanto os artistas quanto o público passaram a ignorá-lo. Nas palavras de Nelson Motta, Simonal “virou um tabu”. Ao seu velório, em 2000, pouca gente compareceu – entre eles os cantores Ronnie Von e Jair Rodrigues.

Em Ninguém sabe o duro que dei, no entanto, o objetivo não é criar um mártir. Há até um depoimento de Raphael Viviani, contador que foi o pivô do escândalo, que afirma ter sofrido torturas e choques elétricos na prisão. “A idéia não era nem atacar, nem defender. Era contar e ir achando a história na medida em que fôssemos fazendo”, justifica o diretor, Cláudio Manoel (do Casseta & Planeta).

O grande mérito de qualquer obra sobre Simonal é mexer em um terreno em que poucos se arriscam. Certo ou errado, o cantor foi uma das primeiras grandes expressões da música pop do Brasil. Ao lado de Carlos Imperial, criou a inconfundível pilantragem, estilo musical tipicamente carioca e até hoje imitado. Poucos, nas últimas quatro décadas, parecem ter se lembrado disto. Condenaram o homem, mas esqueceram de absolver o artista.

4 comentários:

Wagner disse...

Talvez o fato de ser tão complicado separar a pessoa de sua obra artistica que acaba ocorrendo grandes injustiças.

Simonal é um exemplo em um mar que casos que existe pelo mundo todo.

Lara Sousa disse...

Não se devo dizer assim, mas ele não é bem do meu tempo, mas eu vi a história q o trailler do filme em algun jornal e com isso só fica claro que a gente pode ser bom a vida toda, mas apenas um fato, no caso dele um engano, pode acabar com tudo que construimos;

beijos

Anônimo disse...

Bem acheo o Simonal um grande cantor fenômeno, mas tiveram cantores tão imporantes quanto ele.

www.blogdorubinho.cjb.net

Viviane disse...

Conheço muito pouco o trabalho do Simonal, sei mais sobre seu lado polêmico: mulheres, bebidas, etc.
Ficou o gostinho de quero mais e verei o documentário.