26 de janeiro de 2009

Quando Ronnie Von era gênio

A Jovem Guarda agonizava em 1969. Enquanto Roberto Carlos entrava de cabeça no soul (As Curvas da Estrada de Santos e Não Vou Ficar são desta época), o tropicalismo respondia pelo que havia de mais criativo na música brasileira. Neste ano, o príncipe decidiu que não ficaria à sombra do rei.

Após fazer sucesso com A Praça e Meu Bem, Ronnie Von deixou as fãs horrorizadas com sua experiência psicodélica. O LP homônimo lançado num mês de janeiro – há 40 anos – desapontou os produtores pelo baixo apelo comercial. Hoje, é disputado a preço de ouro por colecionadores. Fã de música erudita e cercado por gente como Rogério Duprat e Damiano Cozzella, maestros vanguardistas com fama de malditos, o príncipe gravou um álbum influenciado pelo rock internacional da época, mas incompreensível para o público acostumado com o Iê-Iê-Iê.

A abertura do LP não poderia ser mais simbólica. Meu Novo Cantar, com introdução cantada em versos emblemáticos (“Eu procurei o caminho no vento, mas ele não soprou”), resume as intenções do cantor. “Doa a quem doer, agora eu vou cantar, meu canto é pra valer, meu canto é pra mudar”, canta Ronnie. O clima lisérgico, com vinhetas absurdas, permanece nas demais faixas.

Espelhos Quebrados é tão surrealista quanto Lucy in the Sky with Diamonds, com arranjo que se aproxima de Eleanor Rigby. A influência de Jimi Hendrix, por sua vez, aparece no riff de Sílvia: 20 Horas Domingo, que começa com o jingle publicitário de um bar paulistano. Em Anarquia, um diálogo improvável entre Cozzella e Ronnie antecede a música cujo título define com precisão a sua época.

A experiência psicodélica rendeu a Ronnie Von anos no ostracismo e queda nas vendas. O primeiro volume seria sucedido por outros dois álbuns, A Misteriosa Luta do Reino do Parassempre Contra o Império de Nunca Mais (outubro de 1969) e Minha Máquina Voadora (abril de 1970), que completam a trilogia psicodélica do cantor. O sucesso foi recuperado na década de 1970, com aparições em programas de televisão e discos mais comerciais. Mas a pérola psicodélica lançada em janeiro de 1969 será para sempre o seu auge criativo – assim como um dos melhores álbuns da música brasileira. Doa a quem doer.

Sílvia: 20 horas domingo

10 comentários:

Dear Lê disse...

mas é lindo esse Ronnie...(comentário produtivo) =P
cmo ele diria "meu beeem"
ahauahauahau

@diegohag disse...

Está aí uma coisa que eu nunca imaginei, Ronnie Von um ser psicodélico! Com toda a pompa de príncipe e tal... Não consegui ouvir a música, minha net não colaborou hoje, mas pretendo ouvir, adoro coisas desse tipo.

Valeu pelo comentário no meu blog. Queo avisar que os outros capítulos de Alice no País do Pop já estão disponíveis... visita lá e comenta.

http://diegohag.blogspot.com

Bala Salgada disse...

Eu não conheci ele...Tem muitas músicas dessa época que são bonitas.

Petter disse...

Cara adoramos teu blog, música falada na linguagem que ela merece, parabéns.

Somos uma equipe que também fala de música, na verdade estamos cobrindo a oitava temporada do reality show musical American Idol, você gosta?

Esperamos sua visita, vlw (:

Schali Loureiro disse...

Eis pq gosto do teu blog...hehehe.. Pelo o que você escreve e pelo jeito que escreve, principalmente.

Ah, qto ao Ronnie Von.. há muito que não ouvia falar dele. Gostei!
=*

Anônimo disse...

Sem dúvida um dos teus melhores posts, não só pela escolha do músico como pelo texto, brilhantemente escrito.

Não sou muito fã do psicodelismo, em fato tenho minhas divergências enquanto ao conceito de psicodelismo. Mas esse álbum é sem dúvida um marco pra história brasileira. Concordo quando diz que é o melhor trabalho de Ronie Von, na minha opinião é o primeiro e verdadeiro trabalho dele, disco produzido, pensado e desenvolvido por ele mesmo da maneira como ele queria que fosse levado o seu trabalho. Uma pena ele ter se curvado novamente à midia.

Agora que o príncipe ultrapassou a magestade, isso não se tem dúvidas.

beijusss bb

Pê ~ disse...

tii juroo que nao conheciia esse Von...Mas gostei da musiquinha =]

BjOossss

Pê ~ disse...

Juroo que nao conheciia esse Von...Mas legaus a musiquinha, gostei =]]

BjOos

Anônimo disse...

Caramba e eu que pensava que ele era somente um galã "cantante" fiquei surpresa com toda essa informação...
Psicodélico???? Viajei....heheh
Boa semana!

Elton Rosa disse...

Eu nunca pensei que algum dia iria gostar de Ronnie Von, mas e não é que eu gostei dessa música?! Mas eu achei ela meio que uma cópia do Lucy in the sky with Diamonds. mas tá valendo. Cara! vc tirou isso do fundo do baú, parabéns

Seu blog tem informações que me interessam, linkei ele. vlw