Costuma-se dizer que o Velvet Underground foi pouco ouvido, mas que cada um dos seus fãs montou uma banda. Um neozelandês tímido e desajustado chamado Dean Wareham estava entre eles. Influenciado pela célebre banda novaiorquina, ele fundou em 1987 o Galaxie 500 ao lado de Damon Krukowski e Naomi Yang. O termo shoegazer (referência aos músicos que tocam olhando apenas para os seus sapatos) ganhava, então, um novo significado.
O site UOL Música publicou recentemente uma lista de 20 álbuns clássicos cujos lançamentos completam duas décadas em 2009. Entre os apontados estão figurinhas carimbadas como Doolittle (Pixies), Pump (Aerosmith) e Like a Prayer (Madonna). On Fire, o segundo do Galaxie 500, também lançado em 1989, não está lá – como era de se esperar. Embora tenha sido um sucesso de crítica, o disco - como a própria banda - sempre foi subestimado.
Diferente da estreia com Today (1988), em que a suavidade ainda dividia espaço com a crueza, On Fire percorre uma fórmula que ficaria marcada como a identidade do Galaxie 500. O dream pop (não o do Cocteau Twins) do trio é uma espécie de convite para flutuar sem sair do chão.
Blue Thunder abre o disco revezando dois acordes, coisa típica de Lou Reed e companhia. Sobre uma base sombria, Wareham despeja versos simples de forma quase preguiçosa. E segue assim até o final apoteótico, em que parece querer fugir para algum lugar incerto (“I’ll drive so far away...”). Fruto da personalidade introspectiva de um sujeito que se mostra incomodado (sem motivo) com a própria voz.
A desafinação proposital e a repetição de acordes dão origem a melodias perfeitas em Strange, When Will You Come Home e Tell Me. Isn’t It a Pitty, muito mais do que uma regravação da música de George Harrison, é uma reconstrução musical que encerra o disco. Difícil é apontar apenas um ponto alto entre as dez faixas.
O Galaxie 500 acabou oficialmente em 1991. Anos depois, sua discografia completa foi relançada em CD, inclusive no Brasil. Wareham seguiu em frente com o ótimo Luna, enquanto Damon e Naomi formaram uma dupla. On Fire é o grande momento de uma banda que teve vida curta, nasceu e morreu no underground. Azar de quem não ouviu.
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