21 de julho de 2008

Dica: Velvet ao vivo

Existe pelo menos um bom motivo para que os balzaquianos do rock decidam voltar à estrada anos após encerrar as atividades. Chama-se DVD. É grande o número de "dinossauros" da música que possuem pouco material registrado em vídeo. Quando voltam aos palcos, os velhinhos saciam os fãs com imagens ao vivo que poucos tiveram a oportunidade de conferir no passado. Foi assim com os Stooges, New York Dolls, Mutantes e, claro, Velvet Underground.

O show de reunião do Velvet foi gravado no ano de 1993, em Paris, mas o material só foi resgatado digitalmente em 2005, com o DVD Velvet Redux Live MCMXCIII. A formação original dos nova-iorquinos mostra no palco porque esta é uma das bandas mais influentes do mundo. Do punk de 1977 até o rock alternativo dos anos 1990, passando pelo pós-punk oitentista, todo mundo bebeu da fonte dos velvetianos. E quando John Cale, Lou Reed, Maureen Tucker e Sterling Morrison sobem ao palco, é fácil entender o porquê.

Juntas, a inspiração de Cale, a indiferença calculada de Reed e a timidez de Maureen e Morrison (quase um desconforto) produzem uma mágica que não se restringe a um punhado de hits ou um álbum clássico. É o jeito de fazer música introduzido no rock com o disco Velvet Underground and Nico, lançado no emblemático ano de 1967. E não faz mal que a célebre cantora alemã não integre mais a banda. Femme Fatale, que no debut do VU era cantada com a doçura angelical de Nico, desta vez ganha um tom mais grave com a interpretação arrasadora de John Cale. Definitivamente, o ponto alto deste DVD.
Aliás, com o figurino impecável e os mesmos cabelos revoltos de outrora, Cale é a estrela principal do show, seja tocando um violino estrategicamente desafinado, nos teclados ou no vocal (Femme Fatale e Waiting For the Man). Maureen, possivelmente a primeira mulher a tocar bateria em uma grande banda de rock, rouba a cena na singela I’m Sticking With You, quando até Morrison dá uma canja curtíssima nos vocais. Com o vocal falado de sempre, Lou Reed parecia mais preocupado com a sua carreira solo. Em Heroin, um símbolo da banda, o líder do VU ignora alguns versos. Ou seja, nada de novo nessa personalidade enigmática do rock.

São 90 minutos de genialidade, em que não há nem tempo de sentir falta de clássicos ausentes como Oh! Sweet Nuthin, Who Loves the Sun e After Hours. Talvez a única coisa errada com este DVD seja o penteado de Lou Reed. Como diz o próprio vocalista a certa altura do show, it’s good enough for rock and roll.

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