7 de julho de 2008

Da transcendência ao pop

Se houvesse um túnel entre materialismo e abstração, realidade e transcendência, seu nome seria Spiritualized. Com ecos de psicodelia e space rock, a banda inglesa foi a responsável por um dos mais belos discos da década passada, Ladies and Gentleman we are Floating on Space. Mais do que música “para ficar chapado”, ele criou um conceito transcendental de música em pleno declínio do britpop. A fórmula viria a ser repetida no ótimo Let It Come Down, de 2001, mas foi largada de mão no mais recente lançamento, Songs in A&E. Daí a resistência dos fãs, ansiosos após um jejum de cinco anos – desde Amazing Grace, de 2003.

A despretensão nunca esteve entre as qualidades de Jason Pierce. O homem à frente do Spiritualized sempre tentou soar messiânico e definitivo, como se cada música fosse a última do mundo. Vinha tendo êxito até então. Não que Songs in A&E seja um disco ruim – longe disso! Mas a pretensão de Pierce agora parece ser outra. No single Soul on Fire fica evidente sua busca pelo pop radiofônico. Bela e acústica, com refrão vibrante, a canção pode render novos ouvintes, mas desagrada quem acompanha o Spiritualized há mais tempo.

O violão volta a dar o tom em I Gotta Fire e na bonita Sitting on Fire, em que Pierce canta com uma preguiça comovente. O riff único de Yeah Yeah evoca Primal Scream e a fúria de You Lie You Cheat é o momento mais rock and roll. Ao todo são 12 faixas, além de seis vinhetas. O nome do álbum, que significa Songs in Accident and Emergency, não é por acaso. Jason Pierce passou boa parte dos últimos meses no hospital devido a uma pneumonia. Diferente de Ladies and Gentleman..., considerado o melhor álbum de 1997 pela NME, esse disco não deverá fazer o mesmo alarde. Mesmo assim, a doença de Pierce rendeu um punhado de belas canções.

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