"punk rock is a word used by dilettantes and ah... heartless manipulators about music that takes up the energies and the bodies and the hearts and the souls and the time and the minds of young men..." - Iggy Pop
31 de maio de 2008
Tenor do samba: 40 anos depois
Aonoriel Vilela de Arantes (seu nome de batismo) gravou seu primeiro e único LP com forte influência afro. A cultura de umbanda e os causos do terreiro tomam conta das letras divertidas, revestidas pelo balanço que influenciou os grandes bambas do samba-rock. Em outras palavras, o legítimo samba de preto-velho. Destaque para as ótimas Saudosa Bahia, Promessado e a faixa-título, sempre com o tom de voz marcante e inimitável.
“E enquanto Noriel ‘espichava’ até um metro e oitenta e três, a voz descia até um fá natural profundo e aveludado, que ecoava nas serestas das noites de sábado e nas festinhas eventuais”, descreve Malu Rodrigues no texto de contracapa do LP. O disco único de Noriel foi lançado em CD pela EMI, dentro da série Odeon 100 anos – organizada pelo músico Charles Gavin. A carreira do tenor do samba foi abreviada por uma morte trágica, no dia 20 de janeiro de 1975. Diabético, Noriel sofreu uma hemorragia ao arrancar um dente e não resistiu.
A música mais famosa do intérprete, Dezesseis Toneladas, não está incluída no álbum. Versão em português para Sixteen Tons (de Ernie Ford e Merle Travis, um clássico do folk americano), a canção em nada lembra a atmosfera umbandista de Eis o Ôme. Mas, através de Dezesseis Toneladas (regravada por Clube do Balanço e Funk Como Le Gusta), a obra de Noriel se tornou conhecida entre a nova geração.
Curiosidade
Cheia de “malandragem”, a letra de Sixteen Tons foi totalmente alterada na versão brasileira. Composta em 1947, a música contava o sofrimento dos trabalhadores nas minas de carvão. Como muitos músicos folk eram considerados comunistas, agentes do FBI proibiram a execução do hit nas emissoras de rádio.
29 de maio de 2008
Relíquia inédita
27 de maio de 2008
Como nos velhos tempos
24 de maio de 2008
Festa pós-punk
O Echo & The Bunnymen é um caso raro de banda que mantém a verve criativa depois de décadas na estrada. Seu último disco, Siberia, de 2006, é a maior prova disso. Ian McCulloch e Will Sergeant levam o ouvinte a uma atmosfera ao mesmo tempo nostálgica e contemporânea. Festiva em alguns momentos (Stormy Weather) e sombria em outros, como sugere a capa do CD. Tente não lembrar do gelo seco dos anos 80 ao ouvir o riff de Of a Life - que só poderia ser obra de Sergeant.
E já que o assunto é pós-punk, outro peso pesado do gênero está confirmado na Capital gaúcha. Siouxsie & The Banshees se apresentam em 18 de setembro, também no Opinião. Agora só resta aguardar para que o The Cure inclua Porto Alegre em sua turnê pela América do Sul.
17 de maio de 2008
Depois não é como antes
Na entrevista coletiva de lançamento de nova formação, Sérgio Dias deu a entender que os novos Mutantes poderão gravar outras inéditas. "Estamos lançando essa música (Mutantes Depois) para mostrar para vocês para onde estamos indo, e qual é o nosso rumo, nosso horizonte", disse. Talento ele tem de sobra. Mas não faria mal a ninguém se Sérgio (vocal e guitarra), Dinho Leme (bateria), Bia Mendes (voz), Fabio Recco (voz), Vinicius Junqueira (baixo), Henrique Peters (teclado, flauta e voz), Vitor Trida (teclado, guitarra, violão, flauta e voz) e Simone Soul (percussão) se apresentassem com outro nome.
14 de maio de 2008
Pelo prazer de tocar
13 de maio de 2008
Tributo ao Tremendão
12 de maio de 2008
Nada de novo (ainda bem!)
Assim como dois de seus discos anteriores (blue e green album), o próximo trabalho do Weezer será conhecido pela cor. O red album tem lançamento oficial previsto para 3 de junho, embora já esteja pronto há bem mais tempo - desde o ano passado, segundo o site da banda. "Pessoalmente, acho que é o nosso melhor trabalho", acredita o guitarrista Brian Bell. "Nunca nós quatro trabalhamos tanto e tão apaixonadamente em um álbum e todos esperamos ansiosamente mostrar esse auge dos nossos talentos em 2008, em uma cidade perto de você", brinca. Vem coisa boa por aí!
11 de maio de 2008
Viagem ácida
Ao que tudo indica, os irmãos Noel e Liam andam satisfeitos com a nova casa. Eles dizem que o apoio promocional é maior do que durante os anos na Sony. O título do novo CD ainda não foi revelado, mas já se sabe da inclusão de cinco músicas: a pré-lançada Lord Don´t Slow Me Down, The Boy With the Blue Eyes, A Sad Day in the World, I Wanna Live in a Dream in My Record Machine e Stop the Clocks. As duas últimas, segundo Noel, dão o tom do álbum, e provavelmente serão usadas na abertura e no fechamento. Em uma palavra, ele descreveu o disco como “psicodélico” e disse que as suas músicas levam o ouvinte a “uma viagem ácida sem o ácido”.
Enquanto a bolacha não sai do forno, confira uma prévia:
10 de maio de 2008
John Mayall no Teatro do Sesi
9 de maio de 2008
Os novos Mutantes na RS
Em destaque, texto sobre a nova empreitada dos Mutantes. Sem Zélia Duncan (bom) e Arnaldo Baptista (ruim), Sérgio Dias apresenta nova formação e lança a primeira música inédita depois de 30 anos, a pouco inspirada Mutantes Depois. Trecho do texto de Artur Tavares:
“Após tocarem ao vivo a música em uma das sacadas do Teatro Municipal de SP, com uma borboleta gigante de luz estampada na parede, Dias levou sua banda para uma breve coletiva de imprensa, na qual evitou, muitas vezes com visível nervosismo, falar da recente saída de seu irmão Arnaldo Baptista e da cantora Zélia Duncan do grupo (fim de 2007).
Sobre a nova formação da banda só fez elogios. Os Mutantes de hoje, em que somente ele e o baterista Dinho Leme são da formação original, contam com Bia Mendes (voz), Fábio Recco (voz), Vinícius Junqueira (baixo), Henrique Peters (teclado, flauta e voz), Vitor Trida (teclado, guitarra, violão, flauta e voz) e Simone Soul (percussão).”
8 de maio de 2008
Arquivo: O Rei e os imitadores
Quem realmente representa o rock and roll: o gel no cabelo de Rogério Flausino ou o precursor que chegou a sofrer represálias da sociedade conservadora dos anos 1960 por supostamente incitar os jovens à rebeldia? O sorriso desconcertado de Roberto ao ouvir Flausino disse tudo. Ele já está acostumado a lidar com imitadores.
Voltemos ao ano de 1968. O cantor Paulo Sérgio havia feito um sucesso enorme com a balada “A Última Canção”. Capixaba como o Rei, possuía um timbre de voz muito parecido. A pecha de imitador lhe acompanhou até a sua morte, em 1980. Por acaso ou não, seu maior sucesso é de autoria de um compositor chamado Carlos Roberto. Sem contar a semelhança com o hit “Nossa Canção”, de Roberto. O Rei queria mostrar que Paulo Sérgio (assim como outros cantores da época), por mais que fosse um intérprete talentoso, não chegava aos seus pés. O recado veio no título de um dos seus discos mais importantes: O Inimitável.
Acompanhado pelo RC 7 e por Renato e Seus Blue Caps, Roberto viaja pelo soul e começa a delinear o estilo que percorreria até 1972. Durante este período, os arranjos ficaram mais elaborados e as letras tornaram-se cada vez mais pessoais, tratando de temas como religião e família.
O processo de gravação de O Inimitável é cercado de curiosidades. Trata-se de um dos poucos discos de RC que possuem um título. Como as vendas ficaram abaixo do esperado, Roberto teria optado por não batizar os LPs seguintes, hábito mantido até 2000, quando lançou Amor Sem Limite. Outro fato curioso é a não identificação da banda de apoio no LP original. O nome dos músicos só foi aparecer no relançamento em CD, em 2004, mas ainda assim sem especificar a formação em cada música.
Como se vê, o clássico disco de 1968 é um exemplo de que não é de hoje que o Rei está acostumado a conviver com o oportunismo de artistas com menor categoria.
7 de maio de 2008
Chão de Giz: a origem
Em 1972, Zé Ramalho compôs Chão de Giz sob o efeito de um amor platônico arrebatador. O compositor, que era garoto de programa, conheceu uma socialite (“fotografias recortadas de jornal...”) casada com um grande empresário paraibano (“é inútil pois existe um grão-vizir...”). Ao deixar o seu pequeno exílio, Zé mostrou a canção ao amigo Alceu Valença e entrou para a história. Seguem alguns trechos:
"Eu desço dessa solidão, espalho coisas sobre um chão de giz” – Zé costumava espalhar pelo chão objetos que lembravam o relacionamento amoroso. O chão de giz indicaria a fugacidade dessa relação.
"Fotografias recortadas de jornais de folhas amiúde" – O compositor também recortava todas as fotos da amada publicadas nos jornais.
"Há tantas violetas velhas sem um colibri" – Aqui ele destaca a “sorte” dela (violeta velha) em ter um colibri e rejeita-lo.
"Queria usar quem sabe uma camisa-de-força ou de vênus" – Ao mesmo tempo em que quer usar uma camisa-de-força para se manter longe, queria usar uma camisa-de-vênus, para traçar a madame.
Outros versos, como “meus vinte anos de boy”, ou “pra sempre fui acorrentado no seu calcanhar”, são auto-explicativos. Essa e outras interpretações estão detalhadas no site Análise de Letras.
6 de maio de 2008
Johnny Rivers em fase jazz
Quem não conhece, terá uma boa oportunidade para descobrir a música de Rivers. No dia 12 de maio, o cantor americano se apresenta em Porto Alegre, no Teatro do Sesi. No set list, ele promete ir além de clássicos como Do You Wanna Dance, Sunny e Baby I Need Your Lovin’. Rivers também pretende apresentar músicas de sua fase jazz (?). “Sou um grande fã de jazz. Gosto de ir aos clubes e ouvir os músicos de jazz. Se escuto algum que gosto muito, o convido para participar do meu álbum, vamos ao meu estúdio e trabalhamos. Está sendo um projeto muito legal para mim”, revelou à Reuters.
“Vou tocar umas duas novas do meu novo CD que estou trabalhando no momento e, claro, os velhos hits. Vou tocar também aquelas que foram grandes sucessos só aí no Brasil", disse Rivers, referindo-se a It’s Too Late e Do You Wanna Dance. A turnê marca o retorno aos palcos brasileiros após dez anos. Os ingressos em Porto Alegre estão a venda por R$ 150 (mezanino) e R$ 200 (platéia).
3 de maio de 2008
"Gringo burro!"
"De relax, a gravação de Getz/Gilberto teve pouco ou nada. João Gilberto não se satisfazia com a emissão de Getz, que achava muito enfática para a bossa nova. Por isso, a todo instante interrompia a gravação, para obrigá-lo a começar de novo. Getz não entendia e João dizia entre dentes para (Tom) Jobim, como que mastigasse as sílabas:
'Tom, diga a ese gringo que ele é muito burro.' O americano perguntava a Tom o que João dissera, e Tom botava panos quentes: 'Ele está dizendo que é uma honra gravar com você.' 'Engraçado', resmungava Getz, 'pelo tom de voz não parece ser isso que ele disse.'" (pg. 57)
Veja o clip de Corcovado, do álbum Getz/Gilberto, cantada por Astrud Gilberto:
2 de maio de 2008
E aquele disco dos Mutantes...
A referência aos ídolos sessentistas não está apenas na sonoridade e na capa do disco (que remete a 1967), mas é nominal. Os Mutantes são citados na faixa de abertura. Com uma introdução de teclado, como o Laffayette da Jovem Guarda, Nada Vai Mudar é daquelas músicas que não saem da cabeça de quem ouviu uma única vez. O disco segue com a irreverência de A Geladeira (mera semelhança com Meu Refrigerador Não Funciona, de Arnaldo, Rita e Serginho?). Não Mande Flores, com maior potencial para hit, é Beatles puro. O andamento lembra Don't Let Me Down e a letra resgata a tríade sexo, drogas e rock and roll. No século XXI, originalidade não é sinônimo de boa música. O disco do Mopho é. E estamos falando só das três primeiras faixas.
Na segunda metade do CD, os alagoanos revelam a sua poesia beatnik na ultra-psicodélica Uma Leitura Mineral Incrível - que aparece novamente em versão acústica no final do disco. "Peixes hidráulicos", ratos que são cristais numa prateleira, sapatos e máscaras misturam-se num mosaico guiado por João Paulo, Júnior Bocão, Hélio Pisca e Leonardo. A viagem passa pela melosa A Carta, momento mais sentimental do Mopho, e encerra com o riff potente de Vamos Curtir um Barato, cheia de insinuações ("eu tenho milhares de dedos e olhos brilhantes").
Editado pelo lendário Luiz Calanca e sua Baratos Afins, o CD homônimo do Mopho está longe da perfeição em termos de produção. Ao longo da história, foi este ingrediente, o low fi, que deu o toque final aos grandes clássicos do rock. Neste caso não foi diferente.
Em pleno ano 2000, o Mopho age, tanto no estúdio como no palco, como se estivesse na Califórnia da virada da década de 1960. Sorte nossa.
1 de maio de 2008
Oh, meu Brazil
Por outro lado, o mesmo Caetano que hoje se recusa a dizer as iniciais MTV em inglês já tentou fazer carreira (embora forçadamente) na terra de Shakespeare. Sucesso não houve, mas foi do seu exílio em Londres que nasceram algumas pérolas em inglês. O disco Transa, de 1971, é o maior exemplo. Gilberto Gil e, posteriormente, Raul Seixas, também seguiram o mesmo caminho. Mas nos doidos anos 70 o único cantor brasileiro que interessava aos gringos era um tal Maurício Alberto, que pelas exigências do mercado internacional virou Morris Albert.
Ao gravar Tecnicolor, em novembro de 1970, durante sua segunda visita à França, os Mutantes não mudaram de nome. Nem precisava. Nunca uma banda nacional esteve tão sintonizada com a cultura de fora sem deixar de ser essencialmente brasileira. Porém, essa irreverência não interessou ao mercado internacional na época. A efervescência psicodélica da década de 1960 e o espírito Woodstock haviam ficado para trás. O rock abria espaço para os músicos de conservatório que mais tarde viriam a criar o rock progressivo (que no Brasil teve como principal expoente os próprios Mutantes, após 1972). Enfim, a música dos Mutantes parecia ensolarada demais para os europeus e a Polydor britânica engavetou Tecnicolor após reprovar o excesso de idiomas do disco. Carlos Callado, biógrafo da banda, descobriu as gravações em 1995, mas só em 1999 o produtor Marcelo Fróes conseguiu convencer a gravadora a lançar o disco. Com ilustrações de Sean Lennon, Tecnicolor é cantado em inglês, francês, espanhol e português, mas é uma típica representação do experimentalismo brasileiro promovido pelo tropicalismo. A variedade rítmica, no entanto, não teria sido tão espontânea como se pensa. O produtor Carl Holmes pressionou Rita, Arnaldo e Serginho a fazer um som “mais brasileiro”, aproximando o rock de gêneros como o samba, a bossa-nova e o baião.
Não seria nenhuma missão impossível para os Mutantes, já que eles haviam gravado o samba-rock A Minha Menina, de Jorge Ben, que em Tecnicolor virou a vibrante She’s My Shoo Shoo. E existe regionalismo maior do que Adeus, Maria Fulô (Sivuca/Humberto Teixeira), baião gravado em português com direito aos tradicionais triângulos? Se a questão era inovar, os Mutantes pegaram Baby, de Caetano, clássico da tropicália, traduziram para o inglês e transformaram em...bossa-nova! Mas com uma sonoridade tão pop que parece ter sido gravada por uma destas bandas de “neo-bossa”. Não é de estranhar que a versão tenha ido parar até em trilha sonora de novela global.
I Feel a Little Spaced Out (versão de Ando Meio Desligado) faz a ótima Time of the Season, dos Zombies – cuja linha de baixo inspirou os Mutantes –, parecer uma cantiga de ninar. Tem até um “oh, meu Brazil (com z?)” no final. As traduções seguem em Panis et Circenses, Virginia, I’m Sorry Baby (Desculpe, Babe) e Saravah. Tecnicolor, Le Premier Bonheur du Jour e El Justiciero completam a obra-prima que teve de esperar 30 anos para ganhar vida. Se fosse gravado três anos antes, talvez a história fosse outra.