
Quem não se lembra de John Travolta rebolando na pista de dança com trejeitos que, uma década antes, seriam considerados suspeitos demais? Ou da coreografia de Michael Jackson e os zumbis em Thriller, quando o rei da música pop ainda era negro? Valia de tudo. Menos homem com homem e mulher com mulher, como cantava Tim Maia – embora a regra fosse ignorada por alguns astros do período.
A música rolava em long plays de 78 rotações, que alguns poucos colecionadores insistem em manter vivos (logo seremos maioria!), e em fitas cassete (essas sim, devidamente aposentadas), que volta e meia enrolavam no cabeçote, para desespero de quem ainda nem sonhava com o MP3.
Na política tinha a Guerra Fria, que polarizou o mundo: de um lado, regimes sanguinários; de outro, mais sanguinários ainda. A diversão da garotada era jogar Genius e assistir Caverna do Dragão. As moças suspiravam pelos Menudos, enquanto Magda Cotrofe fazia a alegria da rapaziada na Playboy. A seleção teve Roberto Dinamite, Zico, Sócrates, Chulapa e Falcão, mas somente com Dunga, na década de 1990, sairíamos de um jejum de 24 anos.
Nenhuma destas categorias explica tão bem quanto a música a efervescência dos anos 70/80. Foram tantos movimentos que fica difícil enumerá-los. Começou com o rock progressivo, de canções longuíssimas e músicos saídos de conservatório. O punk e a moda do faça-você-mesmo democratizaram a música em 1977 – uma vez que bastava saber três acordes para tocar –, mas antes disso teve o glam rock e a discoteque. Esse último teve como principal expoente no Brasil o grupo As Frenéticas, trilha da novela Dancin’ Days.
Depois foi a vez do pós-punk, do gótico, do pós-gótico, do heavy metal e da new wave – que foi absoluta nos anos 80. Misturando tudo isso surgiu o Rock Brasil, alavancado por uma infinidade de bandas das quais nunca mais se teve notícia (só pra citar algumas: Dr. Silvana e Cia, Rádio Taxi, Tokyo, Gang 90, Hanói-Hanói, Sempre Livre). Outros tiveram melhor sorte e permaneceram na mídia, embora em alguns casos fosse melhor que isso não tivesse ocorrido.
Aí veio a modernidade e levou embora nossos sonhos. O iPod roubou o lugar do LP. O pluripartidarismo revelou-se uma decepção e a capa da Playboy é puro Photoshop! Na música, então, nem se fala. Hoje a moda é o pagode, o sertanejo universitário e o “rock” das boy bands saídas da Disney. Será que o mundo sente falta de John Travolta contorcendo-se como uma pomba-gira? Pior do que o funk carioca não pode ser.
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